Notibras

Do sonho à realidade, a fantasia é palpável

1. Circo ao avesso. E naquele domingo, a última sessão matinê. O lobo bom come o mau caçador e foge com a vovozinha. A menina de capuz vermelho vaga solta pela floresta.

2. Circo trágico. E naquela madrugada, a mulher barbada cortou os pulsos com gillete. O palhaço Pimentão jamais foi visto desde então.

3. Circo transcendental. E naquela sexta-feira 13, Valeska, a vidente dos olhos de cobra, decidiu não mais pensar ou adivinhar; estava só. “O que adivinhei até aqui virou pós”.

4. Circo temporal. E naquela noite, evidenciou-se o dilema do chinês performático ao sentir-se, pela primeira vez, incapaz de equilibrar e manter girando mais que um prato no ar.

5. Circo ranzinza. Palpitoso, o palhaço triste, jamais esboçara um sorriso. Naquela noite, no final da comédia, ele teve um ataque de risos ao ver a imensa mulher cair de costas do último degrau da arquibancada. Pano rápido.

6. Circo infância. “Respeitável público, agora é o tempo da alegria, do picadeiro, da música, da dança, do teatro e da infância”. Naquela última matinê, as crianças da pequena cidade subiram ao palco e fizeram o espetáculo.

7. Circo trabalho. De tempos em tempos, as famílias desmontavam o circo e armavam tudo novamente em uma nova cidade. Amigos deixados na memória e novas pessoas a conquistar. Na estrada do trabalho e da amizade.

8. Circo vivência. Viver um dia após o outro com uma noite de paz e reconforto no meio. Saborear a arte mambembe como o baquete dos deuses do picadeiro, do palco, da existência.

9. Circo final. E naquela madrugada, o dono do circo – que também era o atirador de facas-, decidiu pelo fim da companhia. Perdeu a batalha para os tremores nas mãos.

10. Circo memória. E naquele terreno baldio, na tabuleta deixada sobre empanados, tábuas da arquibancada, mastareis, serragem do picadeiro e na velha lona cheia de furos ficaram brilhando apenas as palavras.

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