Hamed El-Awar
Estava a dirigir, final da tarde, em direção ao Sítio. O celular toca. Sei que não deveria, mas atendi. Rapidinho. Era o Diretor, comentando que “estava no ar” o causo sobre o lual ocorrido em Olinda. Da rápida conversa veio nova inspiração.
Ainda em Recife, época em que morava na Avenida Visconde de Suassuna, algum tempo depois de haver residido na Rua do Sossego. Havia uma menina linda; uma boneca de louça! Loira, olhos bem azuis! Branquiiiinha!!! Lábios cor de rosa.
A escultura mais que perfeita que o Bom deus poderia ter criado!!! Linda!!! Muito mais linda do que qualquer das esculturas do Mestre dos Mestres de Recife.
Era a coisinha mais linda que até então eu conhecera. Chamava-se Ana. Uma Menina da Hora, lembrando versos dos Mamonas Assassinas.
Meu coração, então adolescente, resolveu apaixonar-se por aquela Menina da Hora. Loucura de amor intenso. Loucura, apenas, não. Influência astrológica também. A menina da Hora tem Sol em Câncer, signo regido pela Lua que está na minha Casa do Amor.
O velho da Hora, amigo do meu pai, já comunistas de antes da época da ditadura, não admitia de maneira alguma o namoro: – se pegá-los juntos dou um tiro de espingarda!!! Também, pudera, naquela época havia a preocupação, eu diria filosofia de vida, que para enamorar-se e namorar, o rapaz já deveria estar trabalhando e em condições de casar.
Entenda-se: sustentar a namorada, futura esposa. Não era, ainda, e estava longe de ser, o meu caso.
Porém, claro, tinha que haver um porém, tínhamos o apoio moral da Senhora da Hora, mãe da Menina da Hora, assim como das suas irmãs.
E o namorico transcorria às escondidas; cinema; houve cinema, sim, naquela época se ia ao cinema, não para ver o filme, mas apenas para namorar. No escurinho.
Um dia, soube, a Menina da Hora estava acamada, com hepatite.
A Senhora da Hora permitiu-me visitá-la em sua cama, onde convalescia, pálida.
Branquiiiinha!!! Olhos azuis; fundos de branco-amarelados.
Visita rápida; um mais rápido ainda beijinho na boca. Na boca!!! Hepatite?!!! O Amor da Hora não permite ver essas diferenças, ou barreiras. É mais forte do que qualquer mal.
Ciente, porém, da idade ainda precoce, longe da independência financeira e, por conseguinte, de obter o respeito do Senhor da Hora, mas, sobretudo dos sustos e temores que a adorada Menina da Hora sofria nos momentos em que nos encontrávamos, escondidinhos, abdiquei do meu grande amor que era único. Era a Menina da Hora.