Os dois pesos e as duas medidas existentes no Brasil deixaram de ser simbólicos faz décadas. Na verdade, acho que nunca foram somente símbolos da desigualdade econômico-social do país. São fatos cada vez mais fartos entre nós. Como disse um coleguinha aqui de Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro é um doente terminal que respira por aparelhos há pelo menos dois anos. No entanto, ao longo desse tempo o mito e seus seguidores fanáticos pelo poder continuam batendo palmas para os maluquetes dançar. Eles dançam sob o ritmo da melodiosa, pesada e lenta batida da Rádio Relógio. Tudo de acordo com a medida estabelecida pela defesa de Jair Messias.
Pois bem, ditador assumido, golpista diplomado e negacionista com mestrado vencido na escola preparatória de Donald Trump, a mesma em que Elon Musk está matriculado, o Messias mantém a disposição de calar os “surdos de capa preta” que deverão julgá-lo tão logo o procurador-geral, Paulo Gonet, decida denunciá-lo pela série de crimes elencados pela Polícia Federal. Esse é o problema. Quando isso ocorrerá? O povo ordeiro e a democracia têm pressa Vale lembrar que a PF já responsabilizou o ex-mandatário em investigações sobre tentativa de golpe, fraude em cartões de vacina e suposto desvio de joias.
Juristas renomados afirmam que, somadas, as penas relativas aos três inquéritos podem chegar a 68 anos de prisão. Então? O que estão esperando? A paciência de boa parte do povo brasileiro está esgotada desde 8 de janeiro de 2023. Mal comparando, é o mesmo desatino dos botafoguenses nessa reta final do Campeonato Brasileiro e na decisão da Taça Libertadores. Brasileiros sérios e botafoguenses sonhadores precisam de respostas rápidas. Torço para que o glorioso Botafogo ganhe pelo menos um dos dois títulos. Desse modo, Nilton Santos dormirá em paz e a pátria estará temporariamente salva da tirania dos flamenguistas, palmeirenses, tricolores, corintianos e até dos vascaínos.
A dos bolsonaristas dependerá dos ventos fortes gerados pelo Supremo Tribunal Federal. Só a ventania dos homens de capas pretas será capaz de secar a lama concebida pelos “patriotas” derrotados em 2022. E que venha um tufão, pois, apesar de as provas terem apertado ainda mais a corda em seu pescoço, Bolsonaro permanece livre e sonha noite e dia com a liberdade que pensou – e pensa – em tirar dos brasileiros. E a terá no mínimo até fevereiro de 2025, data prevista para que Paulo Gonet tome alguma decisão relativa ao indiciamento do mito de papel de pão. Embora estejamos caminhando para o terceiro ano de investigações – a do golpe é mais nova -, a demora faz parte do jogo jurídico. Não para os bagrinhos.
É o tal dos dois pesos e das duas medidas. Eles existem desde que o mundo é mundo. Nos dias de hoje, porém, passaram a ser como doutrinas, normalmente acompanhadas de narrativas e de inverdades. Não é o caso, mas a expressão tem a conotação de injustiça, desonestidade e imparcialidade, algo como artimanhas para beneficiar a alguém. Os fatos do nosso lamentável dia a dia comprovam que há valores muito diferentes para negros, pobres e ricos. Mesmo condenados, os que são capazes de gastar fortunas imensuráveis com bons advogados raramente perdem a liberdade. Quando muito, são presos pós-morte. É ou não é um tipo de peso para uns e uma medida para outros?
Por exemplo, roubar um iogurte, um quilo de fígado ou dizer o que se pensa contra a corrupção no Congresso ou nas diferentes formas de governo) são considerados extremismos, ou seja, crimes de alta monta, talvez inafiançáveis. Para eles, a face mais rigorosa da lei. Entretanto, estimular e planejar golpes, invadir, depredar e saquear patrimônios públicos, xingar e ameaçar autoridades de morte, atirar bombas e pedras contra sedes de poderes, incendiar veículos e criticar o Brasil em reuniões externas são brincadeirinhas de meninos levados e próprias da democracia. Para esses, a reeleição, indenizações milionárias e, naturalmente, a salvação eterna. Queira Deus que eu nunca imagine que a balança da Justiça brasileira não pesa Direito.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978