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Dona Irene, eu, a estrada e o biscoito de polvilho

Uma das coisas que a Dona Irene e eu amamos é pegar a estrada, quando, então, quase sempre, nos embrenhamos por caminhos outros além do destino. Isso torna nossas viagens mais longas, porém, muito mais divertidas, já que temos a oportunidade de visitar lugares que talvez nunca imaginaríamos conhecer.

Outra característica das nossas aventuras é que preferimos sair de madrugada, quando o silêncio do trânsito nos tira logo da cidade e nos coloca na estrada, muitas vezes tão escura, que, se desligássemos os faróis, não conseguiríamos enxergar nem um palmo à nossa frente. Esse ambiente, aparentemente assustador, nos conforta, pois ali estamos apenas nós dois, longe das preocupações do dia a dia.

Enquanto enfrentamos cada quilômetro, bebemos aquele delicioso café na mesma xícara, que esquenta o friozinho na barriga. A minha mulher até se torna mais falante, me conta alguma piada ou uma história engraçada, o que me mantém alerta ao volante. Ela também me fala que daqui a tantos quilômetros passaremos por tal cidade, depois por aquela outra, e vamos indo, até que o majestoso astro rei lança seus primeiros raios.

É justamente nessa hora em que a Dona Irene gosta de dar uma esticada nas pernas e fazer seu dejejum. Pela manhã, ela costuma ter um apetite voraz, ao contrário de mim, que fico apenas no cafezinho. Aproveito para abastecer o carro e lavar o rosto. Depois vou ver como as coisas estão saindo com a minha esposa, quando quase sempre a encontro com um monte de pacotes de biscoito de polvilho. De tantos, mal consigo ver seu lindo rosto. Pego todas aquelas coisas, quase ao mesmo tempo em que ela me manda segurar uma garrafa grande de água. Ela paga tudo e voltamos para estrada.

Não demora muito tempo, já ouço uns barulhinhos de algo sendo mastigado ao lado, enquanto a mão da minha mulher me empurra um biscoito de polvilho na boca. Tento resistir, digo que não quero, mas a Dona Irene não está nem aí para as minhas vontades e, então, acabo aceitando, quase de bom grado, aquele presente. Só um, digo, mas que nada. Ela vai me empurrando outro e mais outro e tantos mais, que nem sei como dizer não. E vamos nessa, às vezes necessitando de um bom gole d’água para fazer toda aquela massa descer goela abaixo.

Lá pelas tantas, a minha amada resolve colocar uma música e, com sua linda voz, canta com os lábios bem próximos aos meus ouvidos. Ela me tasca um beijo na bochecha e, com as duas mãos como se tivessem segurando um microfone, solta aqueles agudos que fariam até esses cantores de heavy metal ficarem enciumados. E vamos assim, até chegarmos ao destino ou a outro qualquer. Isso não importa, pois estamos juntos, seja aqui, ali ou acolá. Invariavelmente, o carro fica puro farelo. Mas nem ligamos!

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