Notibras

Dona Irene fala e cartão azul fica guardado

– Edu, aguenta firme aí, pois estou ralando demais por aqui. Demais!

– Pode deixar, Chefe! Essa vida de editor não é mesmo fácil. Não queria estar na sua pele.

– Acredite, é uma missão que me foi dada. Preciso cumprir a minha sina. A cruz é pesada, mas Deus me deu forças para carregá-la.

Pois bem, foi exatamente esse o interlúdio que tive há pouco com o José Seabra, que, entre um gole e outro naquela cachacinha com caldo de camarão, me pediu mais uma crônica urgentemente para cobrir um buraco de Notibras.

Seja como for, a minha ingenuidade costumeira me levou a acreditar que o Seabra estava atolado de serviço. Que nada! No máximo, com os pés fincados nas areias da aprazível praia de Itapuama, localizada no município de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, no litoral norte brasileiro.

Pensei em fazer uma reclamação formal, mas desisti depois que a minha amada, a Dona Irene, me mandou essa: “Dudu, cuidado, que o santo é de barro!”

Por conta desse sábio conselho, resolvi não prolongar minha costumeira rabugice. Afinal, o relógio na parede da cozinha já apontava que eu precisava correr ou, senão, poderia receber aquele famoso bilhete azul, que, talvez para os mais novos, não faça o menor sentido. Pois bem, para esses e os desmemoriados, trata-se da famigerada carta de demissão.

Peguei uma almofada bem macia e a coloquei sobre a cadeira. Liguei o computador e as palavras pareciam não querer se juntar. Frases, então, nem pensar. Meu pensamento estava totalmente voltado para a praia. Gente, como gosto de praia! Como fico inebriado pela maresia, por aquela infinidade de ondas, que chegam sem cerimônia e lambem meus pés, como a me instigarem para um mergulho. Não resisto e tchibum!

Quase meia-noite e sem qualquer perspectiva, desisto e caminho para o quarto. Talvez a minha mulher ainda esteja acordada. Que nada! Dorme o sono das mães de primeira viagem. Deito-me ao seu lado tentando não despertá-la, quando percebo que acabou de chegar uma mensagem no celular.

É o Seabra: “Edu, um homem longe do mar é um ser incompleto”.

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