Um ano e dois meses após assumir o comando da maior cidade do País, ancorado por um discurso de gestor e não político que lhe garantiu uma vitória inédita no primeiro turno, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou nesta segunda-feira, 12, que pretende renunciar ao cargo no mês que vem para disputar o governo do Estado. Mesmo tendo prometido diversas vezes cumprir seu mandato de quatro anos, o tucano formalizou a pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes em um ato político na capital.
O prefeito vai participar, no próximo domingo, da prévia para definir o candidato da legenda. Além de Doria, estão na disputa o suplente de senador José Aníbal, o cientista político Luiz Felipe d’Ávila e o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro.
A decisão de Doria foi anunciada em um evento organizado para dar um caráter de aclamação da militância. A inscrição do tucano nas prévias foi feita com 1.791 assinaturas de delegados do PSDB no Estado.
O discurso do prefeito foi formatado para rebater as críticas de que ele poderá deixar precocemente o cargo. Ele se disse “sensibilizado” e atribuiu o movimento à “militância do PSDB”. “Não pedi a ninguém, não convidei e não reivindiquei. Mas estou aqui”, afirmou.
Se vencer a disputa interna, Doria será o segundo tucano eleito prefeito de São Paulo a deixar o mandato para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Em 2006, José Serra fez esse caminho e foi eleito governador. Na época, porém, Serra não teve o nome submetido a uma prévia e gozava de uma taxa de aprovação superior à de Doria – 42% ante atuais 29%.
Quando questionado por aliados se repetirá Serra, Doria foge da comparação com o argumento de que não entregará o governo a outro partido. O vice-prefeito Bruno Covas – neto do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo Mario Covas – é visto hoje como “fiador” e principal articulador da pré-campanha de Doria no PSDB.
“Nossa gestão sempre foi coletiva, não individual. É a soma de trabalho do Bruno Covas e João Doria”, disse o prefeito.
Após um discurso exaltado para a plateia que lotou o diretório, Doria foi questionado por jornalistas se seu projeto tem aval do governador Geraldo Alckmin. “Não é preciso aval do governador. É preciso aval do PSDB. O governador respeita a decisão partidária”, afirmou.
Aliados do prefeito devem pedir a Alckmin que tente convencer os outros pré-candidatos a desistir da disputa, como forma de pacificar a legenda. O governador, no entanto, tem resistido à ideia para não interferir na disputa interna do partido.
Alckmin – A entrada de Doria, porém, deve “nacionalizar” a disputa tucana em São Paulo. Depois de passar boa parte de seu primeiro ano de mandato tentando se colocar como opção ao Planalto, deixando o comando da cidade para viajar pelo País, Doria agora quer provar que sua candidatura pode agregar apoios a Alckmin.
O prefeito articula uma chapa com o PSD na vice e tenta atrair DEM e MDB. Mas, até agora, apenas a aliança com o PSD está fechada – o ministro e ex-prefeito Gilberto Kassab poderá ser o candidato a vice. Paulo Skaf (MDB) diz que não vai abrir mão de disputar o Bandeirantes. O DEM também pleiteia a candidatura a vice. “Fechamos um acordo nacional e em São Paulo com o PSD”, disse Doria.
O tucano também minimizou a possibilidade de a base de Alckmin ter dois palanques em São Paulo. Um do PSDB e outro do vice-governador, Márcio França (PSB). “Palanque duplo já foi feito em outras campanhas. Não há problema nenhum. Tenho respeito por ele (França). Teremos uma disputa elevada e construtiva. O grande adversário de São Paulo é o PT. Tenho falado com ele (França). Nossos canais estão abertos.”
O ato teve a presença de secretários municipais, vereadores, deputados federais e estaduais. Aliados e militantes vestiam camisetas com a inscrição “Dória governador”, grafada equivocadamente com o acento agudo. /
Serra – Doze anos depois, a cidade de São Paulo vê novamente a possibilidade de o prefeito deixar o cargo para alçar voos mais ambiciosos. Em 2006, o tucano José Serra saiu da Prefeitura no meio do mandato para se candidatar ao governo de São Paulo.
Eleito prefeito em 2004 após derrotar Marta Suplicy, Serra foi criticado por usar a Prefeitura como “trampolim”, o que ele negou. No entanto, após cumprir pouco mais de um quarto do mandato, entregou o cargo.
Em entrevista em abril de 2006, Serra citou Tancredo Neves, que deixou o governo de Minas para disputar a Presidência, e Franklin Roosevelt, que prometeu às mães americanas que seus filhos não seriam mandados para lutar na Segunda Guerra, mas enviou tropas, para se justificar: “Seria absurdo dizer que Tancredo ou Roosevelt faltaram com a verdade. As circunstâncias mudaram e mudam o destino da política”.