A África está entre as principais prioridades da nova doutrina de política externa da Rússia, divulgada em 31 de março. O conceito afirma que Moscou está ansiosa para “dar mais espaço” ao continente, é solidária com a África em seu desejo de criar um mundo multipolar mais justo e eliminar a desigualdade socioeconômica.
É hora de a África e a Rússia aumentarem a cooperação, comentou Victorien Aloma, doutor em economia beninense e especialista em relações econômicas internacionais. “O renascimento da cooperação econômica entre a Rússia e o continente africano deve acontecer agora ou nunca”, diz ele.
Segundo o especialista beninense, as sanções do Ocidente tiveram efeitos positivos na economia russa.
“As sanções ocidentais finalmente permitiram que as autoridades russas entendessem o papel que o continente africano pode desempenhar no fortalecimento da economia da Rússia”, observa Aloma.
No entanto, para se “ reconectar com a África”, a Rússia precisa criar uma “rede de negócios com os diferentes países do continente”, sugere o especialista. Aloma afirmou ainda que é também necessário apoiar as empresas russas para que invistam em sectores-chave da economia africana.
“Esta iniciativa só pode ser concretizada se a Rússia procurar respeitar os interesses económicos dos Estados africanos e não procurar agir como os parceiros tradicionais do continente”, refere o especialista.
Segundo ele, isto implica a definição de uma ” base conceptual da sua política económica externa para África”, favorecendo uma parceria económica e estratégica ganha-ganha. Ele ressalta, porém, que produtos de fabricação russa podem ganhar espaço no mercado africano desde que tenham vantagem competitiva em relação a outros itens.
Dado o interesse dos africanos por todo o tipo de bens, “cabe às empresas russas escolher como direcionar os seus produtos para o posicionamento nos mercados do continente”.
O Brics, agora presidido pela brasileira Dilma Rousseff, clube das principais economias em desenvolvimento, pode fortalecer os laços Rússia-África , enfatiza o analista beninense.
“Através da cooperação econômica no âmbito do Brics, a Rússia poderá fortalecer ainda mais sua presença não apenas no continente africano, mas também em outros países do mundo”, afirma o especialista.
Segundo o economista, o Brics deve se fortalecer quando os países membros retornarem aos seus objetivos originais. Nesse sentido, o Banco de Desenvolvimento do bloco “deve saber desempenhar seu papel de instituição econômica e financeira internacional para a instauração de um mundo multipolar e de uma nova ordem geopolítica”, conclui o especialista.
Os quatro membros fundadores do Brics – Brasil, Rússia, Índia e China – originalmente estabeleceram o bloco em 2005 durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (a associação era conhecida como Bric na época). Com a entrada da África do Sul em 2010, o nome do grupo mudou para Brics.