Parte 3 (final)
Drácula, imortalidade e conexões com a Alquimia
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Desde a antiguidade, a alquimia tem sido interpretada tanto como uma ciência oculta quanto como uma caminhada espiritual de transformação. Em Drácula, encontramos diversas referências que podem ser lidas sob essa ótica, especialmente no que diz respeito à jornada de Jonathan Harker e à própria transformação de Vlad Tepes no Conde Drácula. O romance pode ser lido como uma metáfora da busca alquímica pelo equilíbrio e pela transcendência.
A longa viagem empreendida por Jonathan Harker e a transformação de Vlad em vampiro podem ser interpretadas como uma alegoria do processo alquímico da Grande Obra. Através de simbolismos e estruturas narrativas, Stoker construiu uma história que ressoa com os três estágios fundamentais da alquimia: Nigredo, Albedo e Rubedo.
A chegada de Jonathan Harker ao castelo de Drácula marca o início da fase Nigredo, a etapa de dissolução e morte simbólica. Harker adentra na fronteira entre a vida e a morte. O ambiente sombrio e a presença inquietante do conde evocam o caos primordial, onde o iniciado é confrontado com o desconhecido.
Harker, um jovem advogado, ingressa em um mundo onde as leis naturais parecem se desfazer, um reflexo do processo alquímico de decomposição da matéria bruta. A jornada de Harker ao castelo do Conde pode ser vista como um mergulho no Nigredo, que representa o início da Grande Obra alquímica, onde a putrefação e a decomposição simbólica do eu ocorrem antes do renascimento.
É preciso morrer para renascer, meio óbvio. Mas, no contexto do nigredo que ocorrerá no castelo, esse renascimento está mais para a manifestação do eu encoberto e obscuro. No qual o medo impedirá a manifestação da luz.
Ao longo da narrativa, sua experiência no castelo se transforma em um ritual de aprendizado e sofrimento, similar às provações enfrentadas pelos alquimistas em busca da purificação.
O castelo de Drácula, isolado nas montanhas e permeado por sombras e mistério, representa um espaço liminar, onde o protagonista é submetido a provações que o transformam. Ele representa, apesar de sua opulência, simbolicamente, o Athanor alquímico. O forno onde a transmutação ocorre. O castelo funciona como esse caldeirão místico, pois é isolado, sombrio e misterioso, um espaço de transformação onde Harker passa pela sua “morte simbólica”.
Drácula reside ali, dentro desse forno alquímico, como uma substância a ser trabalhada, ele é a própria matéria prima que precisa ser refinada ou destruída. Como um laboratório alquímico, o castelo é um símbolo poderoso de sua influência e domínio sobrenatural. Suas características descritas o transformam em mais personagem do que uma simples ambientação. Seus elementos de poder estão associados em sua localização geográfica.
Ele está isolado nas montanhas dos Cárpatos, cercado por um ambiente hostil e difícil de escapar. Ele funciona como uma prisão para Jonathan Harker, na qual o Conde tem domínio absoluto, tanto do castelo quanto do seu território de entorno. O interior do castelo é descrito como um labirinto de corredores e passagens ocultas, reforçando a ideia de que é um lugar enigmático e perigoso.
Sua estrutura é imensa, antiga e em ruínas, um tanto decadente para os padrões vitorianos da época, mas ainda impressionante. Isso reflete a própria natureza de Drácula: um ser ancestral, poderoso, mas decadente e ligado a um passado sombrio. Ele representa uma fortaleza do mal, onde o vampiro reina como um senhor feudal imortal.
Dentro do castelo, Jonathan Harker experimenta estranhas alucinações e visões. O ambiente parece exercer uma pressão psicológica sobre ele, induzindo terror e um senso de impotência. Isso sugere que o castelo não é apenas uma construção física, mas um espaço impregnado e sintonizado aos poderes sobrenaturais do Conde.
Lobos rondam os arredores, obedecendo à sua vontade, e até mesmo os elementos naturais parecem responder a sua presença, como as tempestades e o nevoeiro que envolvem a região. É nele que a tumba de Drácula fica abrigada com seus caixões cheios de terra natal, que garantem sua sobrevivência. Isso reforça o aspecto necromântico da fortaleza: é tanto um lar quanto um túmulo, um ponto de convergência entre a vida e a morte.
Portanto, o castelo de Drácula não é apenas um local, mas uma manifestação do próprio poder do vampiro. Ele é um símbolo de aprisionamento, decadência e domínio sobrenatural. Um verdadeiro bastião das forças ocultas que sustentam o Conde. Por outro lado, a figura do próprio Drácula pode ser interpretada como um reflexo do processo alquímico, porém de maneira distorcida na sua transformação do temido senhor Vlad Tepes em um vampiro assustador e sedutor.
Tepes foi duplamente traído pelo destino. Primeiro pelo suicídio de sua esposa e em seguida seu embate com a fé cristã devido a igreja impedir o sepultamento de sua amada em solo sagrado, além de condenar o suicídio e o suicida, infligindo a excomunhão como punição eterna. Imagine essa situação imposta a um indivíduo apaixonado pela esposa e plenamente poderoso.
O senhor da vida e da morte de milhões, subjugado e levado à impotência pelo destino e pelas leis divinas de sua crença. Tal raiva e dor foram o combustível para o rompimento brutal com sua fé cristã, sendo condenado à danação eterna. Sua imortalidade o levou a busca de seu amor perdido, agora reencarnada como Mina, a sua luz, seu equilíbrio e a sua pedra filosofal. Aquela que o libertaria da maldição, da solidão e sofrimento. Porém, ao invés de atingir um estado de iluminação, ele se torna um ser aprisionado na escuridão e na sede de sangue, um Rubedo corrompido.
A relação de Drácula, e outros vampiros, com o sangue pode ser entendida como um paralelo ao elixir da vida, um elemento central na busca alquímica pela imortalidade. Para Vlad, a culminação dessa jornada se dá com sua transformação em Drácula, um processo que pode ser associado à Rubedo, o estágio final da Grande Obra.
Ao invés de atingir a iluminação e a perfeição, ele se torna um ser amaldiçoado, preso a uma imortalidade distorcida. Condenado a sobreviver através do sangue e da essência de outros. Além da perda de sua vitalidade, a vítima se torna apática e cada vez mais conectada ao Conde. Caso interesse a ele, aqui como o deus criador, a vítima ao receber um pouco do sangue do vampiro sofre a transmutação alquímica final, o rubedo corrompido e se torna vampiro!
A sua imagem e semelhança. Esse contraste sugere uma subversão da alquimia tradicional: a transmutação não resulta em um estado elevado, mas sim em uma existência corrompida e parasítica. Assim, Drácula não é apenas um romance de terror, mas também uma narrativa profundamente simbólica sobre a natureza da transformação e do conhecimento oculto. Stoker, conscientemente ou não, teceu sua narrativa sobre Drácula dentro da simbologia da Grande Obra.
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Marco Mammoli é Mestre Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.
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