Não faz muito tempo, fui convidado pelo José Seabra para enviar crônicas para serem publicadas em Notibras. Mandei uma, depois outra e a coisa foi ganhando uma proporção que não imaginei, mesmo porque se trata de um jornal virtual que possui um quadro respeitável de profissionais. Só para destacar alguns, aqui estão Mathuzalém Júnior e Wenceslau Araújo. E essa história se passou justamente com eles, o Seabra e comigo.
Eu poderia começar dizendo que não me lembro do dia em que isso aconteceu. No entanto, as minhas pernas ainda tremem só ao recordar da recente sexta-feira, 21. É que o Seabra havia me convidado para tomar um café gourmet e, assim que cheguei a uma concorrida padaria da Asa Norte, eis que me deparei com três setentões gargalhando, como que despreocupados com os diversos clientes do local.
Timidamente me aproximei e fui recebido por um esfuziante Seabra, que, todo sorriso, me apresentou aos mestres da escrita Mathuzalém e Wenceslau. Gaguejando mais do que de costume, tentei passar a melhor impressão àquelas lendas vivas do Jornalismo. Procurei escolher as melhores palavras, que, obviamente, não vieram, pois estavam todas com os três à minha frente.
Conversa vai, conversa vem, procurei não queimar a língua. Aliás, mantive-a bem dentro da minha boca, que apenas abria para sorver mais um gole do meu fumegante café sem açúcar. Melhor assim, mesmo porque essa foi uma oportunidade de ouro para escutar tantos e tantos causos daquele trio. Uma, em particular, vale a pena contar.
Pois bem, segundo me lembro do que ouvi, lá estavam aqueles Três Mosqueteiros do Cerrado cobrindo um concorrido velório de uma figura muito importante na Brasília dos anos 1970, início de 1980. Defunto devidamente enterrado, eis que o Seabra, talvez mais atento aos pormenores, percebeu que a viúva estava inquieta.
Perspicaz como ele só, logo ligou seu olfato de perdigueiro e, com um sinal quase imperceptível, chamou a atenção dos seus companheiros de labuta. Os três, chacoalhando suas calças boca-de-sino, foram ao encalço da viúva, que mal se despediu dos presentes e, apressada, entrou em um Galaxy preto. O veículo cantou pneu e, por pouco, não deixou os jornalistas para trás.
Certos que estavam que a mulher seguiria direto para uma mansão localizada no Lago Sul, quase caíram das tamancas quando perceberam que o luxuoso automóvel rumava para o Núcleo Bandeirante, famoso por seus motéis. E foi justamente em um deles que o Galaxy entrou. Diante de tamanho acontecimento, os três se sentaram em uma mesa de bar quase em frente àquele treme-treme e passaram o final de tarde, início da noite, madrugada adentro até o alvorecer esplêndido do astro-rei na capital.
Já perto do meio-dia, eis que o Galaxy desponta na saída daquele parque de diversões impróprio para menores. Não demorou, o veículo tomou a estrada adiante, mas logo pegou o primeiro retorno. Enquanto o carango passava diante dos olhos dos jornalistas, a viúva, talvez ciente de ser vigiada por aquela trupe, girou a manivela para descer o vidro da janela e, em seguida, tascou um beijo na boca do motorista.
– E vocês, obviamente, escreveram sobre isso.
– Não, Dudu.
– Não? Mas por quê, Wenceslau?
Nesse momento, os três olharam para mim e, em uníssono, quase gritaram.
– Dudu, o que acontece no Núcleo Bandeirante, fica no Núcleo Bandeirante.