Machão, mas nem tanto
Durvalino, brabão da família, perde briga até para a seringa da vacina
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Um tigre não precisa eriçar os pelos para parecer maior nem mais assustador. É verdade que tigres rugem, porém, mesmos que mudos fossem, ninguém duvidaria que, ainda assim, são tigres.
Não sei se você conhece algum machão estereotipado, do tipo que arrota grosso, mas, ao menor sinal de revés, cai em prantos, finge desmaio e até corre para o hospital a fim de ser internado.
Tio Durvalino, brabão que nem ele só, poderia facilmente enganar os mais ingênuos. Para você ter ideia, o gajo até pensou em se alistar no exército ucraniano para bater de frente com a Rússia. Pois é, justamente a Rússia, cujo símbolo é um urso, que é admirável adversário até mesmo para um tigre, aquele mesmo que nem precisa eriçar os pelos para parecer maior e mais assustador.
Tio Durvalino não tomou vacina na pandemia. No entanto, no caso dele, nem foi por não acreditar na ciência, o motivo foi outro. Medo de agulha. Pois você acredita nisso? Do alto dos seus quase dois metros e mais de cem quilos, tio Durvalino tem pavor de injeção. Vovó, querendo passar pano na cria, diz que foi trauma de infância.
Tirando a minha avó, ninguém mais na família dá ouvidos para as bravatas do tio Durvalino. Inclusive mamãe, que adulava o irmão até dizer chega, já não tem a menor paciência quando o homem abre a boca.
— Fecha a matraca, Durvalino!
— Num fala assim com seu irmão, Dalva.
— Ah, mãe, só a senhora pra aguentar tantas fanfarronices desse aí.
— Mamãe, a senhora vai deixar a Dalva falar assim comigo?
Como tenho um monte de coisas para fazer, nem me meto nesses imbróglios. Saio à francesa antes que o caldo desande. Mas eis que na semana passada, quando vovó, mamãe e tio Durvalino repetiram o roteiro acima, dona Getúlia, mulher dos seus quase 90 anos, estava de visita. Tio Durvalino, na certeza de buscar conforto na velha, acabou ouvindo o que não queria.
— Dona Getúlia, a senhora acha certo a Dalva falar assim comigo, irmão de sangue que sou?
— Homem, parece que você nunca viu fundilho de cutia assoviar no meio da areia quente.
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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