Idealizador da Primeira Conferência Nacional de Favelas, que acontecerá no primeiro semestre de 2017, o produtor cultural, Binho Cultura, questionou a proibição dos bailes funk dentro das comunidades. Em meio à polêmica sobre o vídeo de um baile que acontecerá dia 9 de abril, e reproduz uma favela cenográfica, o ativista compara o funk ao carnaval: “Foram feitos pelo povo pobre e preto, que hoje nem consegue assistir”.
Nas imagens do vídeo, que causaram revolta nas redes sociais, são mostradas partes do cenário consideradas ofensivas pelos moradores de favelas. Para ele, essa visão propagada pela elite é uma afronta a todo o trabalho desenvolvido dentro das favelas.
Como você viu a divulgação do vídeo?
A favela é muito criativa, mas, quando você não a conhece internamente, fica com a imagem de algo violento. Infelizmente a midia só entra através das operações policiais. Então, as pessoas deixam de ver tudo de melhor que há nesses territórios. É preciso divulgar mais projetos e produções desenvolvidas nas favelas. Essa geração de pessoas de classe média alta reproduzindo esse cenário do baile funk é um desrespeito com o esforço de todos nós que moramos e tentamos mostrar o que há de melhor na favela. Eles são os filhos dos empregadores dos moradores das classes populares, é na casa deles que o morador da favela trabalha. Lutamos para mostrar a favela potente, que a gente pode crescer criativamente.
Como você analisa a assimilação do funk pela classe média?
Eu temo que aconteça com o funk o que aconteceu com o carnaval. É a população negra e pobre que produz, mas não tem acesso nem a assistir aos desfiles. Hoje, o funk está nas novelas e nas boates nos bairros de elite, mas é proibido em seu local de origem. Nós lutamos contra essa contradição.
Existe também a visão de que todas as favelas são iguais…
A favela é heterogênea e, antes de tudo, existe uma sofisticação nos territórios. A gente batalha pelo respeito. A favela é geradora de economia. Com toda essa crise, tem um grande movimento econômico dentro dos territórios. A população favelada é potente até nesse sentido. A nossa criatividade contribui para que, nesse tempo de crise, os negócios não irem à falência. Se a gente produzir um baile funk na favela, uma vizinha vende o frango empanado, o outro, a cerveja. Gera renda.
Como a favela enfrenta a crise?
A favela não vive de aparência igual a muita gente de classe média alta. É um equívoco apenas estereotipar sem conhecer a luta diária pela sobrevivência. O que há de ruim é a ausência de políticas públicas, mas, em termo de economia, criatividade e potência, a favela nao perde pra lugar nenhum. Olha o PIB da Maré, Alemão e Rocinha, o que se gera não fica atrás de vários bairros. Queremos mostrar a favela em sua potência criativa e geradora. É um território de muita potência que sobrevive mesmo com ausência de políticas do estado.