Creio que já contei que a minha esposa, a famosa Dona Irene, tem duas filhas com cara de buldogue, justamente porque são duas lindas cadelinhas dessa raça, ambas nascidas em Brasília. Duas meninas, quero deixar bem claro, pois, por conta do nome de uma delas, não raro, há confusão.
Uma se chama Clara Nunes, mas todos a chamam de Clarinha. Todavia, o problema não é com ela, e sim com a sua irmã, cujo nome é Belchior, que, aqui em casa, é mais conhecida por Bebel. Coisas de família.
Por causa do nome escolhido pela minha esposa, é muito comum as pessoas perguntarem se a Belchior é macho. A Dona Irene, nessas horas, faz aquela cara e diz que não. Onde já se viu alguém imaginar que a Bebel é um garoto? Olha para essa carinha tão de menina!
A despeito de tantos entreveros, houve um que me causou uma crise de risos. E aconteceu justamente no cachorródromo do Tesourinha, aqui em Porto Alegre, onde costumamos levar as meninas para brincadeiras com seus amiguinhos caninos. A Clarinha e a Bebel adoram tais momentos e, enquanto elas correm para todos os lados, a Dona Irene e eu ficamos num canto sentados em cadeiras de praia, quando conversamos amenidades ou lemos algum livro.
Pois bem, lá estávamos entretidos com o livro de poesias “A verdade nos seres”, do poeta Daniel Marchi, quando ouvimos uma voz feminina gritando, como se querendo chamar a atenção de alguém.
— Gal! Gal! Gal, venha aqui! Olha a bolinha!
A Dona Irene e eu olhamos para aquela mulher, que logo se aproximou e puxou conversa com a minha esposa.
— Ah, essa Gal é mesmo uma espoleta. Corre tanto, que ninguém pode com ela.
— O nome dela é Belchior! – minha esposa disse.
— Belchior? Ué, mas não é uma menina?
— Sim!
— Mas por que ela se chama Belchior?
— Por causa do Belchior. Sou muito fã dele.
A mulher pareceu ainda mais confusa com a explicação da minha esposa. Por isso, eu me intrometi na conversa, mesmo porque queria logo voltar para a leitura das maravilhosas poesias do Daniel Marchi.
— É Belchior, mas você pode chamá-la de Gal, Elza, Beth, Bethânia, Alcione. Não faz a menor diferença. É que ela nunca atende mesmo.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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