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É errado? Eu não sabia… É João Santana, sobre receber lá fora dinheiro de campanha

Ricardo Brandt

O marqueteiro João Santana, preso há dois dias alvo da 23ª fase da Operação Lava Jato, afirmou à Polícia Federal, na manhã desta quinta-feira, 25, que é dono da offshore Shellbill Finance SA, na Suíça, e que os valores recebidos em suas contas foram por serviços prestados a campanhas eleitorais no exterior, entre elas a de Angola e do Panamá. Confirmou ainda recebimentos da Odebrecht e do operador de propinas Zwi Skornicki, lobista do estaleiro Keppel Fels.

“O mais importante de tudo é que eles admitiram erros”, afirmou o criminalista Fábio Tofic Simantob, que defende Santana e a mulher, Mônica Moura, na saída da Superintendência da PF, em Curitiba. “Admitiram ter recebido recursos no exterior de conta não declarada”, completou.

Ouvido cerca de três horas, Santana disse que abriu a conta ShellBill “em 1998 para receber recursos de uma campanha na Argentina e foi a forma como ele tinha para receber”. “Na época achava que não tinha problema, porque era recurso recebido em outros países. Ele achava que não tinha problema em ser conta não declarada”, explicou Tofic.

A Lava Jato aponta o recebimento de US$ 7,5 milhões, entre 2012 e 2014, nessa conta de dois investigados por corrupção na Petrobrás, o Grupo Odebrecht e o operador de propinas do estaleiro Keppel Fels, Zwi Skornicki – também preso na Operação Acarajé.

Tofic explicou que foi em uma auditoria que Santana foi informado que “havia essa irregularidade” no uso da conta secreta e “estava pensando já em como regularizar esses recursos”. “(Santana) se sente inclusive aliviado, ele disse que essa conta para ele é um tormento”.

Doação – Tofic disse que os clientes detalharam à PF que os US$ 4,5 milhões repassados para a conta da Shellbill Finance, por meio de sua offshore do lobista Zwi Skornicki, a Deep Sea Oil, foi uma “doação a um partido Angolano”.

Foi Mônica, ouvida nesta quarta-feira, 24, que deu os detalhes sobre os valores. Tofic explicou que Santana cuidava mais da criação das campanhas e a mulher tinha mais conhecimento da parte financeira. “Ela não sabe dizer qual é a relação que esse cidadão (Zwi) teria com o partido angolano, provavelmente algum interesse que ele teria naquele país, e que era uma divida antiga”.

“Nessa área de marketing eleitoral você demora muito a receber alguns valores. Ela (Mônica) diz que havia esse valor pendente, ela cobrava insistentemente, ate que eles disseram que procurasse esse rapaz que ele saldaria a divida”, afirmou o criminalista.

João Santana afirmou nunca ter visto Zwi, que o conheceu pela primeira vez na carceragem da PF, em Curitiba.

Outros US$ 3 milhões foram pagos à conta Shellbill Finance por offshores que seria controladas pela Odebrecht, aponta a Lava Jato. Segundo a defesa de Santana, Mônica “confirmou que houve de fato pagamentos feitos” pela empreiteira, “em relação a uma campanha no exterior”.

“O João não sabe disso. O João é um criador, não trabalha com a questão financeira, com questão bancária. Ele tinha pouco conhecimento de como eram feitos os pagamentos”, disse o advogado

Campanha de Dilma – “Em relação ao PT está tudo declarado ao TRE, não há nada a esconder”, disse o advogado do marqueteiro do PT. O advogado disse que Santana explicou que o dinheiro recebido no exterior não tem relação com os recebimentos por campanhas eleitorais no Brasil.

O marqueteiro fez as últimas três campanhas presidenciais do PT, Dilma Rousseff (2010 e 2014) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006), e a do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (2012).

Prisão – O criminalista diz acreditar agora que as prisões temporárias do marqueteiro do PT e sua mulher sejam revistas. “O que sobrou são suposições. Você tem dois empresários honestos presos na sede da PF. Estão presos há dois dias com base em mera suposição. O que se espera agora é que, feitos os esclarecimentos, sejam revogadas as prisões”.

O advogado afirmou que após os dois depoimentos “ficou claro que eles não têm nada a esconder”. “Pediram que seja aberto todo e qualquer sigilo financeiro e bancário através da polícia, para que acelere a investigação.”

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