Em e-mail enviado no dia 9 de março, o ex-procurador Marcelo Miller faz um roteiro com orientações para as negociações da J&F com o Ministério Público. A mensagem foi enviada por Miller a seu próprio e-mail. Nesta data, ele já havia pedido a exoneração do Ministério Público para advogar, mas sua saída da instituição só teria efeito a partir de abril. O e-mail foi revelado pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
A mensagem de Miller consta nos documentos juntados na CPMI da JBS, empresa ligada à holding J&F. No e-mail, intitulado “segundo roteiro de reunião”, há quatro tópicos sendo que em um deles há menção ao conteúdo do que foi negociado pela empresa. O e-mail tem tom de orientação à empresa sobre como conduzir conversa com o Ministério Público.
“Queríamos lembrar a vocês que a nossa colaboração é muito relevante. Estamos trazendo pela primeira vez BNDES, que era a última caixa preta da República; estamos trazendo fundos, Temer, Aécio, Dilma, Cunha, Mantega e, por certo ângulo, também Lula. Temos elementos muito sólidos de corroboração, que incluem todo um conjunto de planilhas que vamos mostrar pericialmente, pela investigação interna, que foram elaboradas ao tempo dos fatos. Queríamos insistir com vocês na assinatura de um acordo de confidencialidade, para detalharmos os assuntos e iniciarmos a apresentação de anexos. Queríamos que o Brasil e o MPF saíssem na frente”, consta no e-mail.
Miller deixou a PGR para integrar a banca do Trench, Rossi e Watanabe. O escritório chegou a assumir, no início, a negociação de leniência do grupo J&F. A leniência é uma espécie de delação premiada da empresa. Ao mesmo tempo, os executivos do grupo negociavam o acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República.
A data do e-mail, de 9 de março, sugere que Miller sabia das negociações antes de oficialmente deixar o Ministério Público e dois dias depois de Joesley Batista gravar o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu.