Mercado avalia que pacote do Conselhão de Dilma é mero paliativo e não aquece nada
Publicado
emLuiz Guilherme Gerbelli
Os economistas avaliam que as medidas de estímulo ao crédito anunciadas pela equipe econômica não devem ter impacto na retomada da economia. Para os analistas, a proposta do governo apenas aumenta a oferta de crédito e não é suficiente para estimular a demanda. Ou seja, mesmo com mais recursos disponíveis, o cenário adverso da economia faz com que as pessoas tenham pouca disposição na tomada de empréstimos.
“Esse pacote é de oferta de crédito. É preciso discutir também o lado da demanda”, afirma Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Num cenário com famílias endividadas, queda dos lucros das empresas não é óbvio que exista demanda por crédito”, diz Ribeiro.
Os números do ano passado já apontaram uma desaceleração do crédito. De acordo com o Banco Central, o volume de empréstimos aumentou 6,6% em 2015, em termos nominais, na comparação com o ano. O crescimento foi baixo quando se leva em conta o resultados passados. Em 2014, por exemplo, a expansão foi de 11,3%. Em 2010, quando a economia brasileira cresceu 7,6%, o avanço foi de 20,6%.
“Tentar liberar crédito em uma economia com crise generalizada de confiança de nada adiantará”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “São medidas que reeditam a nova matriz econômica. São do mesmo tipo que foram feitas no primeiro mandato (da presidente Dilma Rousseff) e que já não funcionaram”, afirma Vale.
Embora a expansão do crédito tenha desacelerado e o mercado trate o plano com ceticismo, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já disse que é preciso “levar o cavalo à água para ver se ele quer bebê-la” em referência a possível fraca demanda pelo crédito.
Mudança – Por ora, na avaliação dos analistas, a retomada da economia brasileira só ocorreria com o anúncio de mudanças mais profundas
“Da mesma forma que o estado atual é consequência de uma série longa de políticas que foram implementadas ano após ano, o desmonte da situação vai ser resultado da reversão de várias políticas”, afirma Ribeiro, do Ibre. “Isso fatalmente vai ser um processo longo porque o governo que poderia reverter essas políticas foi o que implementou todas essas medidas.”
Nos cálculos da equipe do Ibre, a economia brasileira deverá ter em 2016 uma nova recessão. Na avaliação do instituto, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá recuar 3%. No ano passado, a queda estimada foi de 3,7%. “São dois anos seguidos de uma economia em retração em todas as óticas”, diz o pesquisador do Ibre.