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Educação no Brasil só vale nas falas da malandragem elitizada

O Brasil definitivamente virou piada. A última do zap zap apresenta o nome da preferência popular na disputa à Presidência da República. Escolhido por dez entre dez brasileiros, o sambista Zeca Pagodinho é apresentado como candidato de responsa. E sabem por quê? Porque ele supostamente vai criar o Bolsa Cerveja, o Vale Torresmo e o programa Meu Boteco, Minha Vida. Brincadeiras à parte, são propostas verossímeis, considerando que os similares Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Auxílio são populistas e foram implantados única e exclusivamente com intenções eleitoreiras. Podem até ser importantes para determinados segmentos – e são -, mas difícil achar motivos para explicar a desnecessidade de projetos perenes de educação básica de qualidade, principal caminho de maturação de um povo.

Politicamente, a resposta é simples, Não importa qual seja a corrente doutrinária do governo, não é interessante aculturar a população. É o mesmo que criar monstros. Quanto mais longe do conhecimento, menos capacidade de mudanças. Por essas e outras razões, conter o analfabetismo nunca foi prioridade no país da malandragem elitizada. Do mesmo modo que permitiria ao cidadão crescer social, econômica e financeiramente, alfabetizá-lo significa mostrar-lhe caminhos novos e nobres, os quais, no futuro, podem representar decisões mais conscientes, coerentes e comprometidas com coisas e questões impessoais. Quem sabe, raciocina, age de acordo com a coletividade e, sobretudo, vota sem cabrestos e preocupado somente com a governança e com resultados públicos.

O Brasil não tem hoje um ministro de ponta, tampouco do ramo. Para um país que já teve verdadeiros educadores no comando da pasta, entre eles Darcy Ribeiro, Eduardo Portella, José Goldemberg, Esther de Gigueiredo Ferraz, Gustavo Capanema, Ney Braga, Luiz Antônio da Gama e Silva e Cristovam Buarque, hoje estamos entregues a um seguidor roxo da doutrina bolsonarista, que é aquela do quanto menos educado melhor. Pelo menos nada parecido com a concepção platônica de educação, cujo objetivo era testar as aptidões dos alunos de modo que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejada pelo filósofo grego, que pregava a renúncia do indivíduo em benefício da comunidade. Tudo a ver com o país de nossos dias, quando a boiada dos despreparados assumiu a Esplanada antes mesmo que a porteira fosse aberta da forma convencional, isto é, para posse dos melhores em cada área.

A educação tem raízes amargas, mas seus frutos tendem a ser doces. Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará. Educar a mente sem educar o coração não é educação. Para educar é preciso coragem, a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras. Por mais que não queiramos, impossível não lembrar que o ministro da Educação, o teólogo e pastor presbiteriano Milton Ribeiro, prefere recomendar a Bíblia à tabuada ou as cartilhas. No Enem do ano passado, no auge da pandemia, ele optou por oficiar um culto em sua igreja de Santos, litoral paulista, a acompanhar as mazelas dos alunos. Defensor de escolas cívico-militares, Milton é autor de frases épicas, entre elas a de que “há crianças com deficiência de impossível convivência” e que “universidades deveriam ser para poucos”.

Menos mau que seu antecessor, o maluquete fujão Abraham Weintraub. A outra vertente educacional do governo do mito de barro é ocupada por outro vocacionado para a bajulação explícita. Secretário especial de Cultura, Mário Frias é o exemplo mais gritante do pouco caso do governo com o setor. Ex-ator de teatro amador, quase de beira de esquina, ele comumente confunde sua pasta com a da Defesa. Tanto que, bastou o chefe anunciar que melhor fuzil do que o feijão, para ele posar para fotos oficiais empunhando uma dessas armas letais. Absolutamente incapacitado para a função, normalmente despacha com uma arma na cintura. Enquanto isso, a educação brasileira é um drama, a começar pelas interferências das desigualdades sociais, problemas de infraestrutura, falta de professores e currículo pouco interessante.

Além disso, falta investimentos, a maioria dos alunos vive desconectada da realidade, os pais participam pouco da vida escolar e a excessiva burocracia na administração acaba prejudicando o ensino. Enfim, há uma clara má vontade dos governantes em aculturar seu povo. Entre e sai presidentes e a mesmice continua. Educação só é importante nos discursos. Na prática, é óbvio o desinteresse oficial em capacitar os professores, dando-lhes condições de preparar o caminho dos estudantes rumo ao profissionalismo, consequentemente ao crescimento na vida pessoal. É mais fácil torcer para que adolescentes e jovens se contentem em ser apenas mais um na sociedade. Aos políticos e responsáveis pelas política educacional do país certamente incomoda conviver com quem tem consciência da importância de suas ações. Esses aprendem rápido a votar e a escolher seus representantes de acordo com as ideias e propostas e não conforme as vantagens oferecidas.

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