Antes da denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro e mais três dezenas de golpistas, só se falava da queda da popularidade do governo, confirmada pelo Instituto DataFolha. Mas a denúncia contra Bolsonaro apagará o mau desempenho de Lula? Provavelmente não. Isso porque os problemas do governo ganharam dimensões estruturais, alerta Felipe Nunes. Afinal, a pesquisa mais recente confirmou as mesmas tendências já apontadas pelo Instituto Quaest: queda na aprovação entre mulheres, população de baixa renda e moradores da região nordeste, ou seja, as bases de sustentação de Lula.
Ainda para Felipe Nunes, a questão central é que o individualismo e o pensamento meritocrático avançaram na sociedade, deixando o eleitorado menos fiel. A consequência é que os programas econômicos e sociais já não surtem os mesmos efeitos de antigamente. Já para Luiz Eduardo Soares, o principal problema seria a falta de disposição do governo em enfrentar a cartilha neoliberal da Faria Lima e do Congresso. Em qualquer dos casos, isso significa que a estratégia de Lula de dar ‘pau na máquina’, apostando nos efeitos positivos do crescimento econômico, talvez não dê o resultado desejado.
Já a avaliação de Zeina Latif é que o erro básico de Lula foi acreditar que o novo arcabouço fiscal apaziguaria as relações com o mercado de forma a permitir uma expansão da arrecadação e dos gastos sem oposição significativa. Mas agora, tanto a direita quanto o mercado já farejaram que o governo está sem rumo e tomaram gosto pela brincadeira.
Mesmo que a aposta dos bolsonaristas de sair às ruas por um impeachment de Lula tenha perdido força depois da denúncia da PGR, a pauta animou o centrão, sempre disposto a inflacionar as negociações com o governo por cargos e recursos. Sem contar a sanha privatista dentro do Senado, que agora pretende bombardear os Correios com uma CPI. E não é que a queda na popularidade do governo levou Luís Roberto Barroso a desenterrar, mais uma vez, a proposta de semipresidencialismo?
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Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile produzem o boletim O Ponto para o MST