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Eggers faz renascer sombras de um vampiro com sede de sangue

Nosferatu, de Robert Eggers, é um conto cinematográfico gótico sobre a obsessão entre uma jovem mulher amedrontada e o aterrorizante vampiro apaixonado por ela. Ele vive indiferente ao rastro do mais puro horror que deixa em seu caminho na busca da amada. A estreia no Brsil será no dia 2 de janeiro de 2025.

O elenco é de primeira linha (Nicholas Hoult, Lily-Rose Depp, Aaron Taylor-Johnson, Willem Dafoe e Bill Skarsgård como o vampiro titular) e o filme tem a duração de 2 horas e 12 minutos. Nosferatu conta a história da obsessão entre uma jovem, Ellen Hutter e o seu marido, Thomas Hutter, e o vampiro que a persegue, o Conde Orlok.

É a nova versão/reimaginação​ da produção de 1922, que por sua vez é uma adaptação do romance Drácula (1897), de Bram Stoker.

Assistir ao trailler simplesmente já provoca arrepios. Desenha-se uma noite escura de outubro, perfeita para revisitar os terrores do cinema. Na sala de projeção, a plateia aguardava ansiosamente o que está por vir.

As luzes se apagam, e o silêncio é rompido pela trilha inquietante que acompanha as primeiras imagens. Eggers, como um alquimista, misturava texturas visuais do passado e do presente. A fotografia, granulada e soturna, remete ao expressionismo alemão, enquanto os enquadramentos sonoros e a profundidade emocional dos personagens trazem uma modernidade inquietante. É como se estivéssemos assistindo a um filme antigo.

Willem Dafoe é uma força da natureza. Sua interpretação capturou o grotesco e o trágico de Nosferatu, evocando tanto o horror quanto a compaixão. Seus olhos, profundos e famintos, simplesmente penetram na alma dos espectadores. A figura do vampiro, em sua solidão eterna, tornou-se mais do que um monstruoso personagem. Eggers o transformou em uma metáfora viva para a morte prematura e o desejo insaciável que define a condição humana.

Eggers não economizou nos detalhes. As paisagens da Europa central, envoltas em névoa, evitam saídas de um pesadelo. Cada cenário, dos castelos góticos às aldeias assoladas pela peste, foi meticulosamente construído para ampliar a sensação de isolamento e decadência. O som, ora minimalista, ora estrondoso, intensifica cada momento de suspense. A música, com seus tons dissonantes, parece um lamento ancorado por almas errantes.

O roteiro, embora respeite a essência do original, traz nuances psicológicas que aprofundam a trama. A relação entre Hutter e Ellen, interpretada com delicadeza por Anya Taylor-Joy, ganha uma dimensão trágica que equilibra o horror com a humanidade. Ellen, longe de ser apenas uma vítima, é a alma do filme, uma luz frágil tentando resistir.

Assistindo o trailler, supõe-se que quando o filme terminar, a sala cairá em silêncio por alguns segundos antes de morrer em aplausos. Eggers terá feito mais do que homenagear uma obra-prima; ele a renovou, imbuindo-a de relevância para o público contemporâneo. Nosferatu não é apenas um filme de terror. Mostra, sim, uma experiência sensorial e emocional que desafia o espectador a confrontar seus próprios meios de vida.

Por certo, ao sair da sala, sentirá que havia testemunhado algo raro: a ressurreição de uma obra que, mesmo em sua nova forma, mantém o espírito inquietante e imortal que lhe deu origem. Nosferatu renasceu, e sua sombra, agora mais longa e mais densa, continua a nos assombrar.

Nosferatu, de Robert Eggers, é um conto cinematográfico gótico sobre a obsessão entre uma jovem mulher amedrontada e o aterrorizante vampiro apaixonado por ela, indiferente ao rastro do mais puro horror que deixa em seu caminho em direção a ela.

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Cecília Baumann é editora-adjunta do Café Literário de Notibras

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