Faz um ano e quatro meses tenho evitado aglomerações de qualquer tipo, mesmo que sejam familiares. Por essa única razão, não participei fisicamente das manifestações contra o presidente da República e a favor da vacina. Naquele sábado (28), estava, como tenho estado nesse período, em dolce far niente “prisão” domiciliar. No entanto, contribui espiritualmente com todos os brasileiros e brasileiras que se amontoaram pelas ruas, praças e avenidas do país para dizer ao mandatário que ele nunca foi, não é e jamais será bem-vindo ao cargo que ocupa por obra, graça, desespero e, agora, arrependimento de dezenas de milhões de eleitores. Se a meia dúzia que o idolatra e ainda o vê como mito de padaria que o leve para casa. A se confirmar a inversão do ódio que ele mesmo espalhou, a Presidência da República será facilmente reocupada em janeiro de 2023.
E venha quem vier. Melhor que surjam candidatos honestos, sérios e realmente preocupados com o país e com o povo. Na ausência desses, particularmente aceito corruptos, mentirosos, bêbados e até os falsos dementes e as prostitutas bonitas da Pasárgada. O que a sociedade não deseja nunca mais são falsos heróis travestidos de ditadores, tiranos, déspotas, lunáticos ou coisa que o valha. Desde que seja humilde e demonstre vontade de aprender, topamos até conviver com alguém despreparado para as funções. Sem problema, pois já tivemos vários com esse perfil e, felizmente, sobrevivemos. Abominável é insistirmos com um presidente que, diante de qualquer percalço, ameaça, desqualifica e xinga Deus e o mundo, de modo mais sonoro aqueles que ousam atravessar seu caminho.
Minha educação suburbana nunca permitiu que desrespeitasse um superior ou mesmo autoridades espíritas. Permaneço educado e respeitando a liturgia do cargo. Não sou de criar adjetivos para quem quer que seja. Entretanto, a liberdade constitucional de expressão me permite dar eco ao que ouço ou leio de interessante ou de ruim sobre pessoas, de modo especial a respeito daquelas com as quais não concordo ou não me representam. Por exemplo, como chamar de meu um chefe de governo que não aceita o contraditório e que só admite ser chamado de bonito, mesmo sendo sempre feio? E como considerar conterrâneo um semelhante que adora adornar sua casa ou automóvel com faixas idolatrando o líder, além de bandeirolas e adereços verdes e amarelos, mas ataca com violência àquele que se atreve a portar uma bandagem com mensagem contrária? É essa a democracia que defendem? São reações absurdamente diversas diante do mesmo fato.
Conforme esse grupo, Luiz Inácio, Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Fernando Haddad, Omar Aziz ou qualquer outro político adversário são bandidos, ladrões, corruptos e psicopatas. Quando se trata de Bolsonaro ou de aliados, só aceitam a adjetivação de “mitos”. Quando querem se defender, são perseguidos, injustiçados, inocentes presumidos. Para eles, existem somente um peso e uma medida. E ponto. Meus caros bolsominions, fanáticos por coisa alguma ou similares, a diferença entre este e aqueles presidentes está no conteúdo. Dois deles sofreram impeachment, mas saíram pela porta da frente do Palácio do Planalto. Com permissão nossa (os eleitores), os demais devem ter roubado, mas jamais trabalharam pela perpetuação no poder ou atiçaram pobres coitados para uma guerra que sabiam nunca virá. Pensando com o ego acima da cabeça, o atual se acha com gordura suficiente para voos longos e duradouros. Além de não convencer mais eleitores atentos, esquece que, quanto mais alto, maior o tombo. Que venha logo o futuro.
Aliás, bem lembrado. Com quais forças Jair Messias Bolsonaro pensar dar o golpe? Quem o acompanhará nessa empreitada blenorrágica? Talvez um rolo de papel higiênico seja insuficiente para secar o suor juvenil dessa horda de espertalhões e de velhos conservadores que ainda acreditam em Papai Noel ou na volta do Zorro para nos salvar de servidores corruptos, de tiranos e outros vilões. Como salvar se eles são os próprios? Engana-se quem acha que, livrando o general Eduardo Pazuello de punição, o Exército fechou com as propostas golpistas do presidente. Pelo contrário. Além de mostrar fraqueza e uma vontade enorme de manter o cargo, o comandante da Força afastou ainda mais os verdadeiros e sensatos militares do governo. Parece – e é – brincadeira afirmar que não foi transgressão disciplinar Pazuello participar de evento eleitoreiro com Bolsonaro no Rio de Janeiro. Está escrito no estatuto das Forças Armadas que militares da ativa estão proibidos de participarem de atos políticos.
O comandante tem o texto gravado na alma. Mesmo assim, do modo mais grotesco para um oficial da ativa, preferiu se incluir no famigerado bordão cunhado pelo ex-ministro da Saúde para jurar obediência ao capitão. Agora, a forma correta do slogan dos generais bolsonaristas é “um manda e dois obedecem”. Em tempo, me permito usar da mesma licença poética do presidente quando, para agradar os fanatizados seguidores, ele nos denomina de maricas, idiotas, babacas e, veladamente, de maconheiros. Foi como me senti na noite do sábado da grande manifestação antibolsonarista. Tentando minimizar os protestos contra sua gestão, na conversa com apoiadores nos jardins do Alvorada, o presidente da minoria disse com todas as letras que os movimentos não tiveram a participação de muitas pessoas porque havia faltado “erva”.
Claro que ele acompanhou ou foi informado sobre outro ato, talvez o favorável a seu governo. De qualquer maneira, vale registrar que é nos aviões da FAB que sobra cocaína. Só para lembrar, de acordo com a Polícia Federal o sargento preso na Espanha em 2019 traficou droga para a Europa pelo menos sete vezes durante viagens oficiais. Certamente o capitão presidente desconhecia a prática do militar malandro. Todavia, essa é outra grande diferença. É possível que, em outras administrações, os avançados da Presidência (aeronaves que seguem dias antes das viagens oficiais) tenham transportado cargas mais espartanas, algo como cachaça 51, mortadela defumada e pão francês. Como excesso, os fedorentos e também desnecessários charutos cubanos para uso futuro em convescotes nada republicanos, como foram as comemorações pelas conquistas do Brasil como sedes da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Absurdo, mas, se comparada, a carga dos escaves de outrora eram coisas de adolescente.