El tonto pelotudo para uns, el loco de piedra para outros, Javier Milei é a prova de que todo povo (ou parte dele) tem o governante que merece. Representante da direita universal, inescrupulosa, homofóbica, xenofóbica e racista, o líder argentino é o protótipo de seus governados, incluindo os jogadores da seleção portenha, recentemente bicampeã das Américas. Ele não é o único. A Rússia tem o Putin, a Turquia o Recep Erdogän, a Hungria o Viktor Orbán e os Estados Unidos correm o risco de voltar a ter o Donald, não o pato, mas o Trump. Os brasileiros já viveram isso, mas, graças ao Deus do Cerrado, nos livramos a tempo de fugirmos do abismo social.
Ex-potência econômica do continente, a Argentina patina na bosta. No entanto, a maioria de seu povo ainda se apresenta como reis e rainhas da cocada preta. É uma cocada sem coco e sem gosto, mas a falta de sabor não os faz calçar as sandálias da humildade. Para uma sociedade que sempre viveu – e vive – da soberba, nada pior para o que sobrou da elite tacanha e perdida do país vizinho do que assistir seus compatriotas perambulando pelas ruas de Buenos Aires e das principais cidades em busca de um prato de comida ou de alguns socorros do governo “comunista” do Brasil.
Assim como mais da metade dos brasileiros, reconheço o valor da gastronomia e do tango argentinos. No entanto, na mesma proporção, não tolero o preconceito que eles, mesmo nadando na merda, adoram exportar. Vencedores de mais uma Copa América, a Seleção Argentina novamente está no centro de uma polêmica preconceituosa. Pouco depois da vitória sobre o selecionado da Colômbia, os jogadores argentinos comemoraram o título com cânticos referentes à origem africana de colegas da seleção francesa, incluindo insulto homofóbico ao atacante Mbappé, filho de pai camaronês e mãe argelina. Para azar dos portenhos, ele é negro, rico e tem passaporte francês.
Considerando que os franceses disputavam outra competição, soa cristalino que os chocantes, imbecis, gratuitos e invejosos cantos insultuosos foram entoadas para causar. É verdade que, como colonizadora, a França abriga em seu território numerosos imigrantes africanos. E daí? O Brasil e a própria França também protegem argentinos desgostosos do peronismo e de Milei. O mais curioso é que a Federação Francesa de Futebol tem em sua extensa lista jogadores de todo o mundo, notadamente argentinos homofóbicos, racistas e que ainda não perceberam que futebol é entretenimento e não violência. Como vivem do passado, talvez jamais percebam.
Do mesmo modo que os brazucas, pior é os milionários atletas argentinos terem esquecido que a maioria deixou a miséria graças ao abraço e ao albergue concedido pelos europeus, incluindo os franceses. Filho de motorista de ônibus, mas raso de espírito e sem valor social algum, o descabelado mandatário da Argentina deu nova demonstração de ojeriza pelo mundo globalizado ao demitir esta semana o subsecretário de Esportes, Julio Garro, cujo crime foi cobrar do presidente da associação argentina de futebol e de Lionel Messi, capitão da seleção, um pedido de desculpas pela música racista e transfóbica cantada pelos companheiros da albiceleste. Pior do que ciúme e inveja de homem, só soberba de pobre.
Vale registrar que jogadores e torcedores amados por Milei são racistas, xenófobos e homofóbicos em qualquer lugar do mundo. Tenho horror à xenofobia, mas, se pudesse, usaria Javier Milei para dizer aos argentinos que eles se adequam perfeitamente àquele popularíssimo ditado suburbano: cerveja congelada, carne queimada e mulher grávida…Se tivesse tirado um pouquinho antes, nada disso teria acontecido. Nasceram e agora, temos de aturá-los como vizinhos comedores de cocô na colher. Para um povo que ostentou durante décadas, o luxo nos dias de hoje é estar vivo. Sinônimo de inveja e de frustração, ostentação é o único caminho que pessoas vazias encontram para existir. Nisso os argentinos e Milei são craques insuperáveis.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras