Ele tinha 72 anos, ela, 24 aninhos. Ele morava sozinho e frequentava o bar em que ela trabalhava. Passou a ser atendido apenas por ela. Cumprimentavam-se com um sorriso e logo passaram a brincar. Ela o chamava de vovô, ele a chamava de netinha. As brincadeiras rolaram, cheias de malícia, e ele começou a ser chamado de vovô safado; ela, em rápida sucessão, de netinha linda e netinha gostosa.
Várias vezes, meio brincando, meio a sério, ele a chamou para sair. Ela sorria, fazia que não com a cabeça e respondia coisas assim:
– Melhor não, vovô safado, você não vai dar conta de mim, é muita areia pro seu caminhãozinho…
– Cê que sabe, netinha gostosa – cumprido o ritual, ele sorria, dava-lhe um beijinho no rosto e ia para casa.
Um dia, ela estava com problemas para pagar a faculdade e decidiu surpreender o velho. Quando ele, como de praxe, a convidou para sair, ela sorriu e aceitou. Foram para outro bar, não muito distante.
A netinha decidiu cair matando. Inclinava-se, mostrando os seios magníficos, sem sutiã; colocou “acidentalmente” a mão no sexo dele e, indo com tudo, pegou-lhe a mão e colocou-a entre as pernas, tocando a calcinha. E então falou:
– Sabe, vovô safado, preciso de ajuda este mês para pagar a faculdade. Bastam 700 reais. Se você me der eu dou procê, a gente faz um amorzinho gostoso… – sorriu, sedutora, e ficou esperando a resposta.
Ele, surpreendendo-a, não sorriu. Depois de algum tempo, comentou:
– Netinha (a omissão do gostosa era um mau presságio, mas ela não percebeu), não posso. 700 reais é grana demais pra mim, minha aposentadoria é uma merreca – sorriu afinal e continuou. – Se você tivesse pedido uns 200, 250 reais, eu dava de presente sem você ter de fazer coisa alguma. Porque gosto muito de você, de nossas brincadeiras. Mas você forçou a barra, se ofereceu por dinheiro. Que pena!
Ficou em silêncio, levantou-se, deixou o dinheiro das bebidas em cima da mesa e foi embora.
Ela permaneceu sentada, sem um pingo de sangue no rosto. Aos poucos, caiu a ficha: ela não perdera um vovô safado, mas um homem que a amava, um homem que amava provavelmente pela última vez na existência. E ela sentiu, no interior de cada célula, que jamais encontraria um amor igual em toda a sua vida.