O irmão
Ele veio como um presente que muito demorou a chegar, e ficou para sempre

Tem gente que chega à nossa vida como um presente esquecido no fundo do armário, embrulhado há anos, esperando o momento certo para ser encontrado. Foi assim com meu irmão. Meu irmão que eu não sabia que existia.
Sete anos mais velho do que eu, ele apareceu no início do ano passado e, desde então, tudo mudou. Não daquelas mudanças barulhentas, de virar o mundo de cabeça pra baixo, mas daquela transformação bonita e serena, como quando a gente troca as lâmpadas da casa por luzes mais amareladas e, de repente, tudo parece mais aconchegante.
Ele é incrível. E não digo isso por mera empolgação do reencontro tardio, não. Digo porque é verdade. Inteligente, trabalhador, daqueles que fazem tudo com capricho. Esforçado, como quem sabe que a vida não dá moleza pra ninguém, mas, mesmo assim, insiste em fazer o melhor. Ama os cães com a mesma devoção que eu, e isso, pra mim, já seria motivo suficiente pra eu o querer bem.
Fisicamente, ele é o retrato do nosso pai e de outro dos nossos irmãos. É estranho e, ao mesmo tempo, maravilhoso ver traços tão familiares em alguém que era, até há pouco tempo, um desconhecido. É como se o tempo estivesse nos pregado uma peça, guardando esse laço pra ser revelado depois, como um segredo bom.
Desde que ele chegou, minha vida ficou mais bonita. Mais colorida. Tem mais risadas, mais histórias pra ouvir, mais motivos pra agradecer. Às vezes eu olho pra ele e penso: como é possível sentir tanta saudade de alguém que a gente só acabou de conhecer?
Escrevo isso com lágrimas nos olhos. De alegria, de gratidão, de uma emoção que transborda e não se explica direito. Porque sou profundamente grata por esse presente da vida, por essa chance de viver o afeto que poderia ter passado batido.
Sou grata porque chegou, mas me sinto ainda mais agradecida porque ele quis ficar.
