Último suspiro
‘Elefantes’ do bolsonarismo ainda rondam nossos telhados
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emPerdido no mais completo e insano negacionismo, inclusive negando os números das últimas pesquisas de intenção de votos, o presidente da República e o staff bolsonarista precisa urgentemente colocar a cabeça no travesseiro e decidir o que fazer em outubro próximo. Na verdade, a decisão não é nada prosaica. Após três anos de muita confusão, constantes conflitos com a ciência, ameaças quase diárias de golpes e pouco, muito pouco trabalho, o governo finalmente foi totalmente entregue ao Centrão. Então, o que sobrou para aquele que se elegeu para o cargo mais disputado do país com discurso revolucionário, patriota e futurista? Nada vezes nada. Nem mesmo a credibilidade. Imagina votos suficientes para manter de pé a pompa, a soberba e, principalmente, a imunidade.
Passada a fase em que o antipetismo elegia até poste enferrujado, os tempos são outros. Hoje, está claro que pior do que trocar seis por meia dúzia é mudar do céu para o inferno com uma única clicada na urna eletrônica. Sem delongas, a fogueira da vaidade colocou no grau mais alto de incandescência a batata do mito presidente, cuja trajetória como líder máximo da nação foi além de pífia: não existiu. Por conta disso, tenho lido e ouvido que, em decorrência da discrepância dos números para seu principal concorrente presidencial, há uma chance – e não é remota – de uma candidatura à Câmara dos Deputados. Em outras palavras, seria uma honrosa volta às origens. Talvez um último suspiro.
Dizem as boas línguas que, embora careça de pelos 50% de confirmação, essa opção não só manteria a imunidade do cidadão em questão como também o levaria à mesmice política a que estava acostumado. Pode ser e pode não ser. Em sendo, a urgência atende pelo medonho apelido de desincompatibilização. Conforme a própria Justiça Eleitoral define, a palavra é difícil, quase um trava-língua. Entretanto, conceitualmente estabelece que ocupantes de cargos no serviço público se afastam de posto, emprego ou função na administração pública direta ou indireta para poder se candidatar a um cargo eletivo.
A regra é clara, pois impede que o servidor, no uso do cargo, função ou emprego público, utilize a administração pública em benefício próprio. No português do Brasil, a desincompatibilização evita que haja abuso de poder econômico ou político nas eleições por meio do uso da estrutura e recursos aos quais o servidor tem acesso. É exatamente essa a situação de sua excelência. Mesmo que seus votos tenham virado fumaça, ele pode permanecer na função caso opte por novamente disputar a maior cadeira política da nação. É a chamada reeleição. No entanto, o buraco fica ainda mais escuro se a intenção for voltar à antiga casa. Aí, terá de se afastar por se tratar de outro cargo.
E onde entra a urgência? Faz algum tempo as únicas preocupações eleitorais de Jair Bolsonaro e entorno são os votos e a urna eletrônica. Depois de uma série de desmandos e absoluto desgoverno, recuperar eleitores não será tarefa das mais fáceis. Quanto a segurança, inviolabilidade e agilidade do sistema eletrônico de votação, sua excelência deve dormir o sono dos justos (?). Paralelamente aos cuidados dos ministros, desembargadores, juristas e direção da Justiça Eleitoral, há o trabalho dos técnicos e do meu amigo Zé, o ninja remanescente. Portanto, desse mal o presidente ou qualquer outro candidato estão livres. Tenham certeza de que o voto dado será o voto contabilizado.
Resta a tal da insolente desincompatibilização. Está escrito nas normas eleitorais que presidente da República, governadores de Estado e prefeitos que pretendam concorrer a outros cargos em 2022 devem renunciar a seus mandatos. E esse prazo expira no dia 2 de abril, isto é, daqui a dois espirros, quatro tossidas, meia hora de coriza e alguns minutos de perda de olfato ou paladar. Resumindo a ópera, corra da “gripezinha” que as eleições estão logo ali, mais precisamente no dia 2 de outubro (primeiro turno). Tudo indica que não ocorrerá, mas, como normas são normas, devo informar que um eventual segundo turno será realizado no dia 30. Por falar em norma, o Tribunal Superior Eleitoral ainda não definiu protocolos sanitários para as eleições deste ano.
Por enquanto, não passa de fake news – mais uma – a informação bolsonarista de que o TSE estuda cobrar a apresentação de um “passaporte da vacina” para o eleitor votar. Esperem porque muitos elefantes ainda voarão sobre nossos telhados. Não acreditem. Partam do princípio que asas são um fenômeno somente visto nos elefantes daqueles que trabalham para melar a eleição. Nossos elefantes têm orelhas grandes, mas faz algum tempo deixaram de ser bestas.