A se confirmar os dados da última pesquisa de intenção de votos, a eleição presidencial de 2022, a mais horrenda das últimas décadas, está resolvida. De acordo com os números, 94% dos eleitores consultados asseguram já estar totalmente decididos em relação a Luiz Inácio ou Jair Messias. Outros 6% firmam que a escolha ainda pode mudar. Falta saber quem será o escolhido. Esse prognóstico, no entanto, nem Deus pode adiantar. O que se prevê é que a eleição será definida nos detalhes. Todavia, se as informações estiverem corretas, a dificuldade será bem maior para o candidato que, no primeiro turno, esteve 6 milhões de votos atrás. A dez dias do juízo final, os percentuais permanecem inalterados. São 49% de supostos votos para um contra 45% para o outro.
São apenas 4%, mas que podem consolidar uma vitória desenhada desde o primeiro turno. Mesmo pequena, a porcentagem comprova que a transformação de igrejas evangélicas em currais eleitorais, o assédio criminoso de empresários a seus empregados, o apoio de cantores sertanejos e de governadores da direita não se traduziram em votos para Bolsonaro. Lula continua à frente, ainda que diariamente seja acusado no rádio e na televisão do que há de pior no ser humano. e tudo. Pode ser, mas, pelo menos, ele jamais se manifestou contrário à democracia ou tentou criminalizar os institutos de pesquisa. Aliás, abro um parêntese para lembrar a meus poucos leitores que, como diz um velho amigo das redações, o mais grave é a pretensão de censurar o direito do cidadão à informação.
Interessante é que, contraditoriamente, os deputados, senadores e afins que agora se insurgem contra as pesquisas são os mesmos que defendem liberdade para as fake news. Na tradução mais óbvia do português, o que eles querem é apenas censurar as pesquisas eleitorais que lhes são desfavoráveis. Penalizar os institutos é o mesmo que insistir na tese vencida de que as urnas não são confiáveis porque os votos nelas depositados podem ser desvantajosos para a candidatura que apoiam. De modo mais claro, é o anúncio antecipado de que uma eventual vitória de Lula da Silva não será fácil e candidamente aceita pelos devotos mais radicais do chamado bolsonarismo raiz.
Vencendo o petismo, ouso afirmar que o terceiro turno eleitoral começará imediatamente após a Justiça Eleitoral confirmar o resultado final. Que os idealistas e sonhadores não se iludam. A história do golpe ainda povoa as mentes doentias e obscuras dos fundamentalistas que seguem a doutrina do ódio pregada pelo presidente da República e seu entorno. Improvável internamente, intragável externamente e remota politicamente, essa possibilidade só existe na cabeça de pastores e obreiros sem noção e que, destemperadamente, clamam a Deus pela perpetuação do líder do absurdo. São os que berram, ofendem e depois tentam minimizar os efeitos dizendo que suas falas foram deturpadas pela imprensa comunista. É o famoso morde e assopra.
Eles pregam o golpe, mas certamente não estão preparados para suas consequências, que serão demasiadamente dolorosas. Estão redondamente enganados, mas não abrem mão de achar que viverão num paraíso cheio de virgens e com muita fartura. Contra esse povo, vale a pena lembrar do mestre Paulo Freire: “Num país como o Brasil, manter as esperança viva é em si um ato revolucionário”. Reitero que ser do bem ou do mal é uma ideia singular da cabeça dos sem noção. O ódio não tem nada a ver com o Brasil. A lógica é vivermos em comunhão. Fora disso, será nosso fim como nação. Partindo desse pressuposto, o que estará em jogo no dia 30 de outubro não é a morte desse ou daquele cidadão com posições políticas definidas, mas a certeza de que em nossa escolha estará depositado (ou não) o futuro do país como nação democrática, ordeira, sem preconceitos e, principalmente, economicamente viável.
Voltando aos números eleitorais, contra tudo e contra todos, Lula está aí. Não tem a máquina pública, a chave do cofre, tampouco o Centrão e os templos evangélicos nas mãos. Por enquanto, apenas 6 milhões de votos à frente. Se isso já não é uma vitória e tanto, o que será? Depois de quase quatro anos de espera louca e pervertida, está chegando o derradeiro momento da batalha do Armagedom. Melhor dizendo, chega ao fim a eleição do Armagedom. Antes de seguir em frente, é necessário explicar aos meus seis ou sete leitores o que é o Armagedom. Muito utilizado como referência para o fim dos tempos e denominação de catástrofes, o termo Armagedom é originalmente grego e foi traduzido do Hebraico “har megiddo”. Na verdade, o conceito da palavra é muito mais simplório do que imagina a vã filosofia. Conforme a Bíblia Sagrada, ela representa o lugar em que ocorrerá a disputa final entre as forças do bem e do mal. Que vença o menos ruim.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978