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Eleição traz pesquisa diferente, e quem não souber traduzir, dança

Com a proximidade das eleições de 2022, há uma profusão cada vez maior de institutos e empresas de pesquisa divulgando estudos sobre a disputa presidencial. Para facilitar a leitura dos levantamentos, são listadas aqui 7 coisas que você precisa saber antes de comemorar ou lamentar os resultados.

O texto é inspirado em um artigo publicado pelo site FiveThirtyEight, dos Estados Unidos, especializado em dados e pesquisas de opinião. O texto, no entanto, foi substancialmente modificado para a realidade brasileira. A proposta é servir como um guia para evitar erros comuns na leitura de levantamentos eleitorais.

1) Tendências são mais importantes

A primeira coisa que você deve fazer ao ler uma pesquisa eleitoral é verificar qual foi a data anterior que o mesmo instituto publicou um estudo sobre o tema. A informação mais precisa que você pode extrair de um levantamento é a tendência da pontuação de cada candidato (crescimento, queda ou estabilidade). Isso ocorre porque os estudos se tornam mais confiáveis quando se repetem periodicamente, o que minimiza as possibilidades de erro.

2) Pesquisas são fotografias do momento

O cenário político-eleitoral sempre pode mudar muito entre a aplicação de uma pesquisa e o dia da votação. Os estudos tornam-se gradualmente mais precisos quanto mais você se aproxima da eleição. Por isso, é preciso levar em conta que as pesquisas são “fotografias” do momento, e não uma tentativa de “acertar” o vencedor do pleito. Vários artigos acadêmicos apontam que muitas pessoas se decidem apenas na hora da votação, o que as pesquisas não são capazes de captar. Em 2018, o DataFolha mostrou que 12% dos eleitores decidiram o voto para presidente no dia da eleição.

3) Pesquisa sem registro é crime

O registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é obrigatório em ano eleitoral. Nos anos ímpares, quando não há eleições, o credenciamento dos levantamentos junto ao Tribunal não é necessário. No entanto, essas pesquisas só podem ser divulgadas até dezembro do ano anterior às eleições. É possível acompanhar online as inscrições, detalhes metodológicos, pesquisador responsável e data de aplicação das pesquisas eleitorais feitas no próprio ano de realização dos pleitos na Consulta de Pesquisas Eleitorais do TSE.

4) Comparar resultados é um erro

Cada instituto ou empresa de pesquisa adota uma metodologia própria, o que leva a variações nos resultados. Só é possível falar que um candidato “cresceu” ou “caiu” se a referência for uma pesquisa do mesmo instituto. Por exemplo: se Bolsonaro marca 34% das intenções de voto em pesquisa do DataFolha em uma segunda-feira e, na sexta-feira, o PoderData aponta 54% das intenções de voto, está errado dizer que o presidente cresceu 20 pontos percentuais. O crescimento ou a queda só podem ser aferidas a partir do levantamento imediatamente anterior do mesmo instituto ou empresa.

5) Coincidência sim, “fora da curva”, não

Caso o resultado de uma pesquisa seja diferente do que a maior parte das outras vêm mostrando, é preciso tratar com cuidado. Embora uma pesquisa atípica possa representar o início de uma nova tendência (especialmente após um grande fato político), elas podem representar erros metodológicos. Nesses casos, é mais adequado se ater à média das diferentes pesquisas, o que reflete com mais precisão os resultados.

6) Distância e margem de erro 

Na prática, isso significa que se algum candidato aparecer com 42% dos votos, e a margem de erro for de 3 pontos percentuais, ele pode ter de 39% a 45% das intenções de voto. Se o segundo colocado aparecer com 36% das intenções de voto, apesar de numericamente distantes, eles estão tecnicamente empatados, pois deve ser considerada a margem (33% a 39%). Como os dois candidatos podem estar no limite da faixa de erro, não é possível dizer que um “está à frente”, “lidera” ou “ultrapassa” o adversário.

7) Percentual e porcentagem

As pesquisas respeitáveis ​​sempre terão uma margem de erro. O número deve ser apontado em pontos percentuais, nunca em porcentagem. Isso quer dizer que se um candidato tiver 50% das intenções de voto, é preciso somar 3 pontos ao valor numérico (53%) ou subtrair 3 pontos ao mesmo valor (47%), pois a porcentagem se baseia no total do eleitorado (100%), e não na pontuação do candidato (50). O erro é comum e causa leves distorções, caso seja cometido.

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