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Eleições gerais viram pré-condição para tirar o Brasil da crise

Celso Lungaretti

Concordo plenamente com o artigo desta 5ª feira (24/3) do veteraníssimo colunista Clóvis Rossi, Nova eleição, única saída… até porque ele repete a mesmíssima posição que eu defendi três meses atrás, em 22/12/2015: A única proposta capaz de unir o povo brasileiro: uma nova eleição!

Não que eu esteja cobrando direitos autorais, ou coisa do gênero. Mas, como qualquer ser humano, ficou um pouco frustrado por estar sempre apontando caminhos que outros só vêm a trilhar certo tempo depois, sem nunca me darem o crédito devido. Perceber antes os cenários que prevalecerão no futuro não serve de muita coisa quando as pessoas ainda não estão preparadas para enxergá-los e aceitá-los… infelizmente.

Isto para não falar no boicote a meus textos por parte de uma esquerda que regrediu a posturas e práticas anteriores às de 1968, quando uma geração iluminada reconheceu o exercício do pensamento crítico como um requisito essencial para mudarmos o mundo.

Depois daquela magnífica primavera libertária, contudo, muitos males do stalinismo retornaram, como o simplismo, o utilitarismo, o maniqueísmo e a intolerância selvagem para com as idéias e as próprias pessoas dos adversários também pertencentes ao campo da esquerda.

Daí decorreu o espantoso esgotamento intelectual do petismo: em 2014, a campanha para reeleição de Dilma Rousseff foi um cemitério de propostas, nada tinha de novo a dizer sobre praticamente assunto nenhum. Então, à falta de coisa melhor, optou pela mera negatividade, pela satanização do outro: não só do candidato que representava os inimigos de classe (Aécio Neves), como também, repulsivamente, de uma filha pródiga do próprio PT (Marina Silva). Como consequência dessa vitória espúria, Dilma ganhou mas não levou, pois há 15 meses não consegue governar…

Enfim, voltando à vaca fria, eis o que Clóvis Rossi propõe, sensatamente, como a saída do labirinto em que nos encontramos. Será bom que todos reflitam sobre ela, antes que, face à omissão generalizada das forças políticas que têm o dever de ofereceram uma resposta civilizada à crise de governabilidade, novos e indesejáveis atores, os minotauros fardados, ocupem o espaço vazio. A natureza abomina o vácuo… e a política também!

Meu amigo de Facebook Lucas Verzola, funcionário do Tribunal de Justiça de São Paulo, comenta com fina ironia a lista dos mais de 200 políticos apanhados na planilha da Odebrecht:

“Se cair todo mundo que está na lista da Odebrecht, o segundo turno da eleição presidencial vai ser disputado entre Eymael [José Maria, O democrata-cristão] e Levy Fidelix [o do aerotrem]”.

É um exagero, mas a situação está tão feia que encontra eco em uma análise acadêmica, ainda por cima saída de um grife como o Council on Foreign Relations:

“Há pouquíssimos políticos que não tenham suas reputações arruinadas por alegações e simultaneamente sejam capazes de montar uma coalizão necessária para aprovar qualquer reforma significativa para dar partida a uma economia moribunda”, escreve Matthew Taylor.

É por isso que a única saída para a tremenda crise em que o país mergulhou é a realização de nova eleição presidencial, o que exige, antes, a cassação da chapa completa, Dilma Rousseff/Michel Temer.

Por partes:

1 – A decisão sobre o impeachment será rechaçada ou pelos que querem a saída de Dilma (aos quais se somou nesta quarta-feira, 23, a revista The Economist), se ela escapar do processo na Câmara ou no Senado, ou pelos que o consideram golpe, se o Parlamento aprovar o afastamento da presidente.

Pode-se até considerar que o bando contrário ao impeachment é minoritário (68% a favor, 27% contra, segundo o mais recente Datafolha). Mas, ao contrário do outro bando, trata-se de uma tribo organizada e militante, capaz, portanto, de criar problemas para qualquer governo que surja do impeachment.

2 – Mas se Dilma ficar, a dificuldade não será menor, não só pela oposição majoritária na sociedade à sua permanência como pela manifestação explícita de rejeição por parte do empresariado.

Em qualquer hipótese, portanto, a governabilidade seria capenga mesmo em circunstâncias normais. Em uma situação de recessão inédita desde os tristes anos 1930, ficaria ainda mais difícil.

3 – Vale ainda notar que o sucessor natural de Dilma, o vice Michel Temer, pode ser colhido, amanhã ou depois, pela Lava Jato. Aí o que se faz? Novo processo de impeachment, alongando a agonia de uma economia moribunda?

Por falar em Lava Jato, ainda mais agora com a delação premiada da Odebrecht, qualquer análise política é temerária porque pode ser atropelada a cada momento por uma nova revelação, como, por exemplo, a lista dos 200 e tantos políticos que vazou nesta quarta.

Feita essa ressalva indispensável, fechemos o teorema:

4 – Uma nova eleição, obrigatória se a chapa completa for cassada, pode até ser disputada só por nanicos, se os graúdos forem todos alvejados no que chamo de delação do fim de mundo (e a lista de quarta-feira sugere que tenho razão, embora ela ainda não prove nada).

Não importa. Eleições livres, gerais e limpas são a única maneira de dar legitimidade a um governo, pré-condição para começar a tirar da UTI um país que resvala para o IML.

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