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Eleitor fica de olho nos olhares de Bolsonaro e Lula para Moro

Palácio do Planalto.

Vestibulando dos cursinhos do subúrbio do Rio de Janeiro, diplomado pela faculdade da vida, concursado dos corredores do Congresso Nacional, pós-graduado do Palácio do Planalto e doutorando dos gabinetes e plenários do STF, TSE e STJ, percebo que ainda sou neófito quando o assunto é a política nacional. Descubro que não passo de aprendiz de feiticeiro pronto para ser jogado no caldeirão de maldades dos políticos profissionais. Nesses últimos dias tenho me surpreendido com algumas manchetes plantadas por assessores de candidatos à Presidência da República ou pelos próprios protagonistas. Uma delas revela que o Planalto vê o ex-juiz Sérgio Moro sem base política para ameaçar Jair Bolsonaro em 2022. Outra afirma que o partido (Podemos) que abriga o também ex-ministro da Justiça é a novidade mais velha das eleições do ano que vem.

Podem estar corretas, mas qualquer resposta definitiva somente daqui a exatos dez meses, quando todos esses nomes espalhados pelo balcão eleitoral serão postos à mesa de mais de 150 milhões de eleitores. Por enquanto, o quadro é de polarização entre o capitão sem farda e o torneiro sem torno, com cenário amplamente favorável ao soldado mais famoso da esquerda nacional. Com base nas respostas às consultas sobre intenção de votos, para boa parte dos institutos a eleição já está definida. No entanto, a velha máxima de que cabeça de magistrado, bunda de neném e voto na urna eletrônica são incógnitas seculares têm obrigado Bolsonaro e Luiz Inácio a canja de galinha e escalda-pés quase diários. Afinal, cautela é a palavra de ordem nesse momento de eloquente beligerância entre os dois antagônicos grupos políticos do país.

Na verdade, direita e esquerda ainda não perceberam que há vida – e muito mais edificante – fora dessas correntes dominadoras, brigonas, personalistas e abusivamente centralizadoras. Não sei ainda se Moro, Ciro Gomes (PDT) ou Rodrigo Pacheco (PSD) – os demais não têm peso – serão diferentes do que já vimos até agora. O que tenho certeza é que um dia o caçador Collor de Mello, o intelectual Fernando Henrique, o salvador Lula da Silva, o poste Dilma Rousseff e o mito Jair Bolsonaro foram apostas políticas e novidades eleitorais. Se deram certo ou errado, cabe a nós avaliá-los individualmente. Cada um a seu modo, todos acharam – e acham – que acertaram mais do que erraram. Tenho minhas dúvidas, mas não penso polemizar com as escolhas alheias. O que sei é que nada sei, mas a cada eleição tenho mais certeza de que mudanças na forma de escolher são imperiosas.

Lindinho, escolado, popular, militante e mito são adjetivos que não colam mais por absoluta falta de assertiva de seus “proprietários”. A continuidade improdutiva tem feito mal para quem não concorda com a mesmice. Sendo assim, acredito que o novo deve fazer bem, principalmente se ele não teve oportunidade de mostrar alguma capacidade macro entre o período que deixou o que fazia para tentar fazer o que não queriam. Com alguma razão, nos acostumamos a acusar o povo de não saber votar. Esse não é o problema. A verdade é que sempre nos deixamos enganar por discursos mirabolantes, figurativos, despombalizados e desonestos. Nos últimos pleitos, trocamos deliberadamente propostas, ideias e objetivos por conchavos e ideologias. A capacidade e a intenção gerencial deixaram de ser importantes.

A pouco menos de um ano da eleição em que mostraremos ao mundo (ou não) o Brasil da união, da paz e das liberdades individuais, talvez seja esse o momento da virada de mesa. Não interessa que volte Luiz Inácio, que permaneça Bolsonaro, que ressurjam Dilma ou Collor, que ressuscite Temer ou que renasçam esperanças com Moro, Ciro, Pacheco, Dória, Mandetta ou Simone Tebet. Fundamental é que nos valorizemos como cidadãos e como eleitores. Antes de apertar qualquer botão da urna eletrônica, reencarnemos Nelson Rodrigues e, pelo menos uma vez, sejamos o máximo de nós mesmos. Não esqueçamos jamais que coragem não é ausência de medo. Temos de ir além, pensarmos adiante e, quem sabe, refletir, por exemplo, que os políticos que brigam em defesa de Lula ou de Bolsonaro são os mesmos que lutaram exaustivamente para garantir a vergonhosa e contraditória PEC dos Precatórios.

Ou seja, quando o interesse é deles a ideologia que se exploda. Antes da aprovação e promulgação da emenda que abriu espaço para o presidente da República ampliar o Auxílio Brasil, todos lembram que um acordão permitiu que a maioria dos deputados assinasse um cheque em branco de R$ 90 bilhões para garantir uma sobrevida ao governo do mandatário que adora ser chamado de mito. Não fosse a pronta ação da ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber, a barganha teria sido perfeita. Em troca, os parlamentares favoráveis à emenda receberiam um polpudo din din extra em forma de emendas e o governo garantiria recursos para viabilizar o eleitoreiro Auxílio Brasil. Infelizmente, o Supremo roeu a corda, liberou o orçamento e decidiu pelo anonimato dos autores das tais emendas de relator. Em outras palavras, ficou o dito pelo não dito.

E nós? Mais uma vez quem tem direito a receber dívidas da União reconhecidas pela Justiça e com trânsito em julgado (sem a possibilidade de recursos) ficará sem receber os precatórios. É a formalização do calote a uma conquista legal do trabalhador. Difícil esse país com leis de oportunidade e com um Congresso parcimonioso com os péssimos devedores. Em quem acreditar? Por enquanto, em ninguém. Portanto, já passou da hora de invertermos a ordem. Não somos capachos de deputados, senadores, governadores ou presidentes da República. Como eleitores capazes de mudar o status quo da nação, temos de ser respeitados. Para isso, precisamos mostrar força e coragem. Um futuro melhor só depende de nós. Lembremos que nosso voto é a nossa arma.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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