As últimas pesquisas eleitorais, como a divulgada pelo Instituto Paraná, mostram uma diferença significativa entre o atual prefeito Ricardo Nunes, que lidera com 51,7%, e Guilherme Boulos, com 39,6%. Essa diferença de mais de 12 pontos percentuais reflete a resistência de uma grande parcela do eleitorado paulistano em aceitar Boulos como prefeito, e os motivos vão muito além de questões ideológicas.
Os pouco mais de 39% de intenções de votos que Boulos conquistou nesse mano a mano com Nunes se devem muito mais ao inconformismo com a gestão do atual prefeito do que a méritos próprios. Boulos continua preso à bolha histórica dos 30% destinados à esquerda paulistana, um eleitorado consolidado, que vota no campo progressista independentemente do candidato. O desafio é romper essa barreira, mas até agora ele não demonstrou capacidade de ampliar esse espectro para além da sua base tradicional.
Além disso, Boulos se mostrou claudicante no primeiro turno ao tentar enfrentar Pablo Marçal. Sua estratégia de apelar para um discurso mais ponderado e conciliador, que poderia atrair novos eleitores, acabou afastando parte de sua base mais radical. E, ao tentar adotar uma postura mais populista e incisiva no segundo turno, ele fracassou ao tentar “virar o Marçal da vez”. Essa tentativa de reinvenção não funcionou. O eleitor percebeu a incoerência e preferiu a continuidade e previsibilidade representada por Nunes.
Historicamente, figuras como François Mitterrand e Lula precisaram de várias derrotas para moldar suas personalidades políticas de forma palatável ao eleitorado majoritário. A trajetória de Boulos parece seguir essa mesma lógica. Ele ainda está em processo de transformação, como se tentasse fazer uma metamorfose de Raquel (a irmã má) em Ruth (a irmã boa), numa referência à novela Mulheres de Areia. Mas, no caso de Boulos, esse processo ainda está longe de ser finalizado. E Lula, seu padrinho político, poderia até assumir o papel de Tonho da Lua nesse enredo, mas será que o público está disposto a assistir a essa história agora?
Por enquanto, os números indicam que a maioria dos paulistanos prefere a estabilidade de Ricardo Nunes a experimentar com uma versão de Boulos que ainda está sendo moldada. A diferença não é apertada, ela é robusta, e mostra que o eleitorado de São Paulo ainda não está pronto para entregar a prefeitura nas mãos de alguém que, para muitos, não passou de uma versão de si mesmo que ainda gera desconfiança.