Processo de facilitar o aprendizado ou aquisição de conhecimentos, habilidades, valores, crenças e hábitos, a educação é responsável por integrar o ser humano à sociedade ou a seu próprio grupo. Polidez, deferência, cortesia e, principalmente, civilidade, são seus sinônimos mais próximos. Não chega a ser novidade para nenhum brasileiro sensato, mas o substantivo não faz parte da vida ou do vocabulário de Bolsonaro, tampouco de seus quatro filhos. Nada tenho a comentar sobre o cidadão Jair Messias, sobre o qual nunca ouvi falar. Me refiro ao presidente da República, cuja liturgia do cargo obriga a ser exemplo e requer conhecimento da função, realizações, desempenho acima da média, ações proativas e, mesmo contra vontade, discernimento e distinção no trato do semelhante, ainda que esse seja um ferrenho adversário.
Aliás, não é difícil constatar que as atitudes e reações do mandatário e de seus apoiadores não são de pessoas normais. Como diz um amigo, é coisa de psiquiatria. Na sexta-feira (21), após ser multado pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), por não usar máscara e provocar aglomeração na cidade de Açailândia, onde entregou títulos de propriedade rural, Bolsonaro, usando todo o “charme” de sua deselegância, chamou Dino de comunista gordo. Pouca coisa para quem já rotulou de “idiota” todo brasileiro que optou – e opta – pelo recolhimento e prefere deixar a aglomeração para quem já se cansou da vida. Sobre o governador, qualquer consulta popular concluiria que não há margem de erro. O biotipo e a escolha ideológica do chefe do Executivo maranhense estão corretos. O que causa surpresa é a adjetivação partir de um líder que detesta ser lembrado por aquele termo associado a mortes em massa. Aí vale a lembrança de que pau que dá em Chico dá em Francisco.
A multa aplicada pelo comunista no negacionista contumaz não tem valor econômico algum. O peso de punir um mandatário por não seguir regras científicas e de civilidade pode ser futuro. A conta certamente será política, quem sabe eleitoral. Afinal, como respeitar um presidente candidato que não se dá o respeito? Como reconhecer um chefe de governo que zomba da ciência, faz pouco caso da morte e pouco liga para o povo que supostamente lidera? Digo supostamente pelo fato de, eleito para comandar o Brasil, ter preocupação somente com a meia dúzia que o idolatra fanática e violentamente. O resultado não poderia ser outro: os eleitores sadios, que temem o vírus e que se assustam com a situação pré-falimentar da nação, já começaram a procurar alternativas. Alguns até já encontraram.
Uma delas tem nome, sobrenome e apelido incorporado. Já ocupou a principal cadeira do Palácio do Planalto, foi liberado para disputar as eleições de 2022 e, embora não tenha sido inocentado de suas ações nada republicanas, é o oponente que verdadeiramente assusta à seita bolsonarista. E não é para menos. Os números de pesquisas recentes são deveras demonstrativos, inquietantes e determinantes. Se não houver cataclismas, tsunamis ou golpes, o bicho vai pegar para a família. Claro que muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte. E certamente carregará o que tiver de ruim. Antes de tudo, temos em curso a CPI da Covid. Todos sabemos como ela começou, mas poucos imaginam como terminará. De concreto, apenas que secará paulatinamente a candidatura posta desde 1º. de janeiro de 2019. Criada para investigar ações e omissões do governo no controle e combate da pandemia, a comissão não precisou ir muito longe. Os fatos, os deboches oficiais, o escárnio com a coisa pública e a falta de pudor com o país caem no colo dos senadores.
Nesse domingo (23), Bolsonaro e sua trupe provocaram uma aglomeração motorizada na cidade do Rio de Janeiro, cujos contribuintes também são multados quando infringem regras estabelecidas, entre elas o ajuntamento. A sociedade que preza pela correção espera um posicionamento do prefeito Eduardo Paes. Pelas ruas do Rio, acompanhado de seu novo ajudante de ordens, o general Eduardo Pazuello, o presidente mostrou toda sua perversidade. Fazendo política diariamente com uma doença que transformou em números 450 mil brasileiros, Bolsonaro esculhamba a sensatez e os valores do povo, faz discursos negacionistas, levando os radicais a orgasmos múltiplos, mas não lembra que até agora apenas 19% dos brasileiros foram vacinados.
Quanto ao Maranhão, antigo feudo de outra família de pouca simpatia (os Sarney), nada mais correto do que parabenizar o trabalho do governador gordinho. Flávio Dino conseguiu reduzir a índices baixíssimos a letalidade do coronavírus. Por isso, exige de quem “visita” o estado respeito às normas sanitárias. Bolsonaro descumpriu a obrigação do uso de máscara como medida farmacológica destinada a contribuir para contenção e prevenção da Covid-19 em locais de uso coletivo, ainda que privados”. Portanto, a multa foi bem aplicada. Ao “punir” exemplarmente o presidente, Dino, ex-juiz federal, ex-deputado federal e advogado, deixou claro que a lei é para todos. Descumpri-la é a prova cabal de que educação não se aprende nas escolas nem nos quartéis. Vem do berço. Como diria Jô Soares a Flávio Dino, “beijos para o gordo”.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978