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Eleitor rejeita mais fantasias e espera ordem no Buriti

Foto/Arquivo Notibras

Apelidada de a Dama de Ferro, Margaret Thatcher foi primeira-ministra do governo britânico por mais de uma década (de 1979 a 1990). Polêmica, combativa e combatida – sobreviveu a uma tentativa de morte – e autora de pérolas de fundo imperialista que são creditadas a ela. Dizem que a governante do Reino Unido afirmava: “Quando há consenso é porque não existe liderança”. É o tal do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, na acepção verde e amarela do intolerante ditado.

Análises conceituais à parte, até pelo motivo de sua origem ser a terra dos Beatles que tem uma constituição de costumes, muitos brasileiros entendem que para governar bem é preciso ter “comando”. Essa foi a resposta de quase 60% dos leitores na última enquete de Notibras, que somados a outros 20% que votaram em “austeridade”, como predicados exigidos do próximo governador do Distrito Federal, revelam a sensação de que o GDF está ao Deus dará.

Pode ser que sim, pode ser que não, mas o sentimento dos contribuintes candangos é esse: alguém precisa por ordem na casa. Uma análise mais cuidadosa aponta para velhos hábitos que foram consagrados como desculpa esfarrapada para não fazer nada.

Um deles é a instalação de comissões para resolver problemas, a maior parte deles criada pelo próprio governo. O argumento vem travestido de uma forma democrática de encontrar soluções para todas as mazelas. Pega bem o discurso e é uma forma de ganhar tempo e adiar soluções. Como se o relógio fosse inexistente no pulso dos governantes e o tempo um fator sem impacto no dia a dia dos eleitores.

Mas o castigo não tarda. Quando 76% da população consideram o governo desprovido de comando e austeridade, então o Executivo atual abre uma ferida institucional de difícil cicatrização. De forma ainda mais subliminar, provavelmente inconsciente, o GDF está próximo de estabelecer a anarquia como forma de gerenciar suas obrigações. Parece ser essa a sensação que está no ar.

O secretariado e seus comandados, como em uma estrofe, repetem em entrevistas que a solução será encontrada após a instalação de comissões. Ninguém crê nisso mais, ainda que em alguns casos um grupo de trabalho seja necessário. Mas a sua criação deve ser antecipada ao agravamento dos problemas e não depois, como sempre acontece.

O cidadão não quer saber de administrar a coisa pública, não vai comparecer a audiências abertas depois que elas passaram a ser outro engodo, afastadas de sua função original. O eleitor quer resultado, quer a verdade dos fatos, quer ação. Quer comando! E acredita que hoje é exatamente o que não existe no GDF.

Contrariando parte do que teria dito Thatcher, a liderança autêntica é uma vocação e deve ser conquistada, não imposta. Nas organizações do mundo moderno só aquelas que têm um C.O. que manda fazer e acontecer têm sucesso. Ainda que o C.O. deixe a sensação de que as decisões são compartilhadas entre seus comandados.

Talvez seja necessária uma boa dose de coragem para assumir riscos e erros. Coisa que só líderes são capazes de fazer. Quando o eleitor dá a senha do seu cartão – não existe mais cheque em branco – ele já revelou o seu desejo de ver o seu eleito tomar decisões. Entregou a ele a máquina, a cadeira e o cofre.

Se o governante terceiriza suas obrigações e seu discurso negativista é repetitivo, suas comissões inúteis são frequentes e os problemas da população são crescentes, então ele faz entender que não manda em nada. Está mais para Elizabeth II do que para Margaret Thatcher.

Ao que parece, o brasileiro gosta, sim, de um certo folclore. Mas está restrito ao Carnaval.

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