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Eleitor só ‘leva ferro’ na bacanal de bacanas do Brasil

Ainda não consegui apurar a veracidade da frase atribuída ao ex-governador Geraldo Alckmin, para quem política é feita por amor às pessoas. Considerando o naipe de nossos representantes nas câmaras municipais, assembleias legislativas, governadorias, Congresso Nacional e Palácio do Planalto tal afirmação é impensável, improvável, hipotética, inacreditável, duvidosa e inverossímel. Como é de conhecimento de todos, a honestidade do político brasileiro já gerou alguns filmes, normalmente comédias, a maioria tendo como enredo a mentira e a corrupção. Sem fugir à regra, em duas dessas fitas, estreladas pelo humorista Leandro Hassun, o fictício deputado João Ernesto Ribamar é corrupto, mentiroso e candidato à Presidência da Repúblicas. Como vários que conhecemos, ele leva um estilo de vida nababesco sustentado por vários esquemas de corrupção.

Qualquer semelhança é mera coincidência com o Brasil de A a Z. Divertida não fosse realista, a paródia apenas reproduz a trágica cena da política nacional e seus atores principais. Em uma das peças, João Erneste recebe um feitiço e enfrenta um dos mais terríveis problemas para qualquer postulante a cargo público: ser obrigado a dizer a verdade, sobretudo a respeito de suas intenções pessoais após enganar milhares de pessoas fantasiadas de bestas ou, para os espertalhões aculturados, suas senhorias os eleitores. Pior dos cenários para os acanhados e escondidos corretos, íntegros e probos, Brasília é o palco perfeito para desvios de comportamento, depravação de costumes, imoralidades, deboches e, principalmente, libertinagem com o dinheiro do contribuinte.

Essas são as provas de que o amor dos políticos pelo eleitor brasileiro realmente é incondicional. A cada quatro anos elegemos parlamentares cada vez mais comprometidos com o país e com seu povo. São vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes dispostos a dar o próprio sangue para acabar com a seca no Nordeste, com as desigualdades, com o desemprego e com a fome em todos os rincões. São políticos de caráter ímpar e de qualidade de fazer inveja a qualquer dinamarquês, norueguês, neozelandês a até português. São incorruptíveis, inegociáveis, invendáveis e imprestáveis, além de absolutamente (des) preocupados com as numerosas mazelas nacionais. É uma deslavada mentira dizer que, em vez de dar o sangue pelo povo, boa parte desse segmento bebe o sangue do povo.

Ops! Melhor não esticar para não ter a narrativa copiada por um desses cineastas marronzistas e incapazes de retratar a verdadeira essência dos políticos da Terra Brasilis: homens de bem e voltados para o bem. São os redatores e roteiristas do caos. Ávidos pela propaganda enganosa, adoram esconder os dotes messiânicos, evangélicos, espiritualistas e catolicistas de nossos briosos representantes. Preferem mostrá-los como chefes mequetrefes de grupelhos fora da lei, aventureiros, falastrões, enganadores e usurpadores. Enfim, via de regra, são descritos no rádio, na TV, nos sites e nos jornais impressos como o que há de mais diabólico e nojento no mundo daqueles que detêm o poder de formar opinião.

Embora sejam pessoas normais, capazes de manipular e influenciar determinados agrupamentos em favor de uma ideia, normalmente desejam que o povo se exploda. Será que amaluquei de vez ao tentar romper o lacre da demonização dos políticos brasileiros? Sou informado pela consciência que sim. Meus neurônios pensantes indagam sobre que país estou escrevendo. Após rápida reflexão, percebi que havia imaginado um conto erótico, daqueles que lembram uma antiga festa dionisíca, uma espécie de bacanal de bacanas, do qual a plebe, o pobre eleitor, só participa na condição de receptor de ferro. E tudo a seco e no escuro. Eita narrativa absurda, mas como seria bom se não fosse ficção. Nossa verdadeira comédia é pura tragédia.

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