Expectativa e realidade
Em 2026, vai ficar com a faixa quem se mantiver vivo
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No Brasil de Jair Bolsonaro, a Câmara dos Deputados tem quórum suficiente para aprovar a proposta de anistia os condenados pelos ataques de 8 de janeiro. No mesmo Brasil bolsonarista, o ex-presidente diz a deputados e senadores que não abrirá mão de sua candidatura à Presidência em 2026. As ilações do Messias têm como base dados do Instituto Paraná Pesquisas, que indicou vitória do mito em eventual segundo turno contra o presidente Lula da Silva.
Conforme os números, Bolsonaro teria 45,1% das intenções de votos, ante 40,2% do líder petista. Sou crítico de obituário de políticos. Por isso, não me atrevo a traçar o de Jair. No entanto, no outro Brasil Bolsonaro acaba de ser indiciado pela Procuradoria-Geral da República por cinco crimes, entre eles o de golpe de Estado. Isso quer dizer que qualquer iniciativa sonhadora do staff bolsonarista tem de passar obrigatoriamente pelo crivo dos 11 habitantes do palácio localizado defronte à masmorra do Planalto.
Inicialmente pelos cinco da Primeira Turma da Casa. Ou seja, de nada adianta se valer da amizade com o deus norte-americano e da força da direita raivosa. Se não houver uma combinação prévia com os russos, continuará valendo o que está escrito. Provavelmente, consultores e consultados não se deram conta de que o que está escrito vai de encontro ao que semanalmente sugere o Paraná Pesquisas. Portanto, ainda que Elon Musk desça à terra fantasiado de duende, a inelegibilidade por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação será mantida.
O primeiro passo foi dado pelo procurador Paulo Gonet, que não se deixou encantar pelas loiras madeixas de Donald Trump. Obituário à parte, o resultado prático é que o jogo a ser jogado dificilmente será o que planta o instituto paranaense. Aliás, com todo respeito aos pesquisadores e aos pesquisados, o público parece ser sempre o mesmo. Nunca vi resultado negativo para o ex-presidente. Os números podem não mentir, mas aguçam a curiosidade de qualquer um. A minha está tinindo. Na pesquisa vantajosa para Bolsonaro, o instituto crava Lula na eleição de 2026.
Tanto que, mesmo em crise existencial e à beira do precipício, o petista empataria tecnicamente com Jair Messias no segundo turno, justamente em um sítio onde ele é execrado. Será que, para o Paraná Pesquisas, sem Bolsonaro, Luiz Inácio já garantiu a quarta encarnação? Sinceramente, não sei. E não sei por que, além de não ter a expertise das pesquisas, a bola de cristal da qual me valho está embaçada de vermelho. Será que a confiabilidade do Datafolha desceu pelo ralo? Faz uma semana, uma pesquisa Datafolha indicou que 24% dos eleitores brasileiros aprovam o governo do presidente Lula (PT) e que 41% reprovam.
Foi o pior nível de aprovação em todos os três mandatos de Lula. A reprovação também é recorde. O que teria mudado de lá para cá? Com certeza, nada. Mais uma vez recorro às críticas ao obituário antecipado. Para mim, tudo isso prova que a montanha russa do Brasil não é para amadores. Mesmo assim, apesar de todas as mazelas, meu coração pulsa em verde e amarelo e no compasso do samba. Decorrência direta das fantasias do atual e do agora denunciado ex-governante, nosso cotidiano nos transforma em mágicos e propagadores de mentiras. Como prefiro a realidade, me manterei longe das expectativas até que 2026 se materialize em fatos. Vencerá a eleição aquele que se mantiver vivo e conquistar mais votos. É o óbvio ululante.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
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