Pérola! Era o nome daquela garotinha, temporã, a miúda daquela casa em Barra de São Miguel, Maceió. Dos irmãos, restava apenas um, que estava prestes a se formar e, não tardaria, ganharia o mundo. Que voasse alto, mas, caso as asas se cansassem de bater, o ninho era quentinho e acolhedor.
A raspa do tacho, aos seis anos, corria sorridente pelo amplo jardim. Um mundaréu sem fim para criatividade sem limites. Criança é assim mesmo. Tanta imaginação! Adulto é que não tem juízo, que fica arrumando confusão por coisa boba. Se ao menos fosse por um sorvete de chocolate, ainda vai.
Um escorregão aqui não era motivo de choro. Talvez um tombo de bicicleta, mas nem isso. Se era para abrir o berreiro, que fosse por topada na árvore ou picada de marimbondo, mas nada que um colo da mamãe ou do papai não resolvessem. Doeu? Doeu, sim! Mas vida que segue, brincadeiras é o que não faltam para serem brincadas e, caso acabem, damos um jeito de inventar outras.
— Pérola, hora do banho!
— Calma, mamãe, que estou conversando uma conversa séria aqui com o cajueiro.
A mãe olhava pro marido, que sorria. Coisas de crianças. Entretanto, não tardava, a filha já estava de banho tomado, pronta para ir para a escola, quando ela resolve fazer uma curiosa pergunta ao pai.
— Hoje a gente vai como pra escola, papai?
— De carro.
— Mas a gente não pode ir de outro jeito?
— Como? A pé? De bicicleta?
— De unicórnio!
— Unicórnio?
— Sim, papai!
— E qual a cor desse unicórnio, Pérola?
— Hum! Bem colorido!
— Então, feche bem os olhos e só abra quando eu falar.
O pai, então, pegou a filha no colo e caminhou até a escola, que ficava a quatro quarteirões. Assim que chegaram, disse que a menina já poderia abrir os olhos. Pérola abriu aquele sorriso, deu um beijo na bochecha do homem e saiu correndo para contar para os coleguinhas que ela havia ido para a escola montada em um unicórnio. Mas não um unicórnio qualquer, pois ele era colorido.