Tudo vem acontecendo de modo firme e furtivo, à medida que a Amazon avança, competindo com a Apple pelo título de empresa mais valiosa do mundo. Do que estamos falando? Da ascensão, inevitável quando os holofotes estão sobre você, de Jeff Bezos, ou seja, o homem mais rico do mundo, para se tornar um ícone da moda. Não se pode mais ignorar isto. Como representante da sua empresa, ele é uma figura onipresente.
No vazio deixado por Steve Jobs, em meio à posição incerta do proponente de camiseta cinza e capuz Mark Zuckerbeg (graças aos problemas enfrentados pelo Facebook), e como uma alternativa aos veludos púrpura de Elon Musk e a rusticidade de Tim Cook, Bezos propõe um novo tipo de imagem do magnata da tecnologia.
De acordo com Joseph Rosenfeld, personal stylist especializado no mundo da tecnologia no Vale do Silício e Nova York, e cujos clientes trabalham em empresas como Apple, Intuit e Google, “Bezos vem adotando um estilo que o diferencia de qualquer outra pessoa no setor de tecnologia. Ele vem se superando, com um guarda-roupa com raízes tradicionais, mas também bastante moderno e minimalista, e que tem evoluído junto com sua empresa”.
Uma transformação que sob muitos aspectos é tão inesperada quanto as mudanças na produção de filmes e serviços de internet como eram na sua origem. Sua barba fina foi eliminada rigorosamente e seu bíceps ficou mais volumoso. Suas medidas diminuíram e ele adquiriu um guarda-roupa inteiro de jaquetas.
Seus acessórios começam a mostrar sinais do magnata: um relógio Ulysse Nardin, óculos de sol Garrett Leight Van Buren, botas de cowboy. Seu estilo se tornou tão chamativo que tem inspirado todo o tipo de comparações com figuras da cultura pop como Pitbull (pela Spin) e “Exterminador encontra Vin Diesel em Portland” (BuzzFeed).
Em 2015 a GeekWire o escolheu como o mais bem vestido numa cúpula de tecnologia com o presidente Xi Jinping da China, derrotando Tim Cook, Satya Nadella da Microsoft, Zuckerberg, Jack Ma do Alibaba e o cofundador do LinkedIn Reid Hoffman, entre outros.
Quando essa revolução teve início? É difícil determinar. Possivelmente quando Bezos começou a articular suas ambições de trazer o mundo da moda para a Amazon (ambições que o deixaram mais longe da alta costura, embora Morgan Stanley preveja que a empresa em breve vá se tornar a maior varejista de roupas nos Estados Unidos). Em 2012 ele apareceu nas escadas do Metropolitan Museum usando um smoking Tom Ford como presidente honorário do Met Gala.
Na época muitas pessoas, incluindo esta colunista, ridicularizaram a combinação. Talvez devêssemos prestar mais atenção ao fato de que, em uma entrevista para o The New York Times, logo depois do evento do Met, quando Bezos não se lembrou do quem eram sua camisa ou sapatos, mas conseguiu dizer a marca do seu jeans: Prada. Algo tinha mudado.
E assim continuou quando ele comprou o Washington Post no ano seguinte, que foi acompanhado no ano passado pela compra da maior casa em Washington, quando foi sugerido que ele se tornaria a próxima Kay Graham [antológica editora do Post]. Mas sua mais clara expressão surgiu quando ingressou no Instagram em 2017. Muitas das suas postagens se concentram no sonho de Bezos com seu Blue Origin e vôos espaciais, apesar de alguns também zombarem disto, mais ou menos como no caso do seu novo estilo.
Por exemplo, lá está ele mostrando as veias do braço saltando, ao lado de um pôster de Dwayne Jonhson em “Rampage: Destruição Total”, com a legenda: “Ainda queimando calorias”. Há também uma foto sua com Patrick Stewart usando smokings iguais na festa do Oscar promovida pela revista Vanity Fair no início do ano, foto que provocou comentários sobre a semelhança dos dois.
E lá está ele também no deserto usando um jeans desbotado, chapéu e botas de cowboy, destacando sua cápsula espacial em uma pose de que tudo correu bem.
Bezos está ficando mais à vontade em assumir esse papel público e se vestindo para isso. Abandonou o famoso lenço quadriculado no bolso do paletó quando está de terno, o que ocorre quando se encontra na companhia de pessoas com poder político. Entre jornalistas e seu próprio pessoal, ele costuma tirar a gravata e prefere usar uma jaqueta esportiva e calças apertadas em contraste.
Ao contrário de outros empresários do setor de tecnologia que consagraram o tipo de uniforme na mitologia do seu setor e o equiparam a um modo de pensar, Bezos tem facilidade para se vestir. E já mostrou sua disposição para provar novas roupas.
O resultado é um novo modelo de empresário importante do setor de tecnologia. Se a Amazon vencer a disputa pela marca de três trilhões, espere ele chegar em breve a uma Silicon Alley (comunidade de Internet e empresas de computação que vem aumentando na área metropolitana de Nova York) perto de você.