Entrevista/Jefferson Lima
‘Em nosso mundo, tudo é matéria-prima para a composição literária’
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emEra uma vez… Ops! Assim não. Até parece que estou escrevendo um conto. Vou recomeçar, apresentando a nossos leitores o mineiro Jefferson Lima, acostumado a transformar em jardins paradisíacos cenários pouco atrativos. Seu estilo é doce; seus poemas são como nosso maior desejo de consumo.
O dia-a-dia inspira Jefferson, desde a notícias a conversas informais – passando por imagens, claro. Como ele bem define, tudo é matéria-prima para a composição literária.
Conheça a seguir um pouco desse poeta, cronista, contista e romancista, apresentado após entrevista feita por e-mail:
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Meu nome é Jefferson Lima, sou mineiro, de João Monlevade, no entanto moro em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, onde integro a Academia Luziense de Letras e Artes (ALUZ). Desde 2009 venho publicando em diversas coletâneas, destacando-se entre elas as quatro coletâneas elaboradas pela ALUZ. No entanto, foi em 2017 que publiquei o meu primeiro livro solo, “Se For Poesia…”. Desde então, publiquei ainda o livro de poemas “Sobre os Nossos Dias e Alguns Desejos” (2021), e o livro de contos, “Meu Grito” (2022), todos pela Editora Delicatta (SP).
Como a escrita surgiu na sua vida?
Antes da escrita, veio a paixão pela leitura, que até hoje me acompanha. Fui uma criança frequentadora da biblioteca da Escola Municipal Rúmia Maluf, em João Monlevade, desde os meus sete anos de idade. O hábito de ler me levou a gostar das atividades de produção de texto e, aos nove anos, eu já me destacava. A professora da 3ª série, dona Carmen Drummond, tinha por hábito fixar os textos destaques num quadro para todos lerem durante a semana. Os meus textos frequentavam bastante aquele quadro, e não estar nele era motivo para me desafiar para a próxima semana. Tal desafio me levou ao gosto pela escrita como forma de expressar meus sentimentos, minha visão de mundo e minhas inquietações.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
As minhas vivências e observações da realidade me inspiram. Notícias, conversas aleatórias que participo ou apenas ouço, as muitas inquietações internas, as manifestações de fé ou a dúvida, a diversidade, as várias faces da miséria que frequentemente vejo, os amores vividos ou apenas cobiçados… tudo é matéria-prima para a composição literária.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Sou uma pessoa que, profissionalmente, sempre transitou entre as áreas de exatas e de humanas, entre as reações químicas e a complexidade das pessoas. No âmbito pessoal, permeio entre o fervor da crença e o questionamento dos discursos; entre os fatos noticiados e as muitas opiniões. É impossível refletir sobre todos estes temas e perceber todas as suas nuances, sem que a minha escrita fique impregnada desta tinta, ora suave, ora intensa.
Quais são os seus livros favoritos?
Crime e Castigo (Fiódor Dostoievski); O Evangelho Maltrapilho (Brennan Manning); O Amor que Acende a Lua (Rubem Alves); O Grande Sertão Veredas (João Guimarães Rosa); Poesia Reunida (Adélia Prado); Os Vendilhões do Templo (Moacyr Scliar); A Lista de Schindler (Thomas Keneally); Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago).
Quais são seus autores favoritos?
Adélia Prado, Ferreira Gullar, Valter Hugo Mãe, Moacyr Scliar, José Saramago, Rubem Alves.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Constantemente já pratico a escrita por motivos profissionais, onde preciso redigir muito conteúdo técnico diariamente. Quanto à literatura, a inspiração é o que me move. Não consigo produzir literatura se não houver um gatilho, um incômodo, uma cócega que me provoque. Quando sinto esta fagulha, o texto flui com facilidade. No entanto, sou capaz de passar semanas refletindo sobre um tema, ruminando ideias antes de iniciar a escrita.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Os temas sociais são os mais presentes nos meus escritos, seja em versos ou em prosa. Refletir sobre as questões que impactam o modo de viver das pessoas é algo que me toca profundamente. As razões que nos levam a agir e pensar de determinada forma, a partir de certas circunstâncias e como isto define toda a nossa trajetória na existência é, ao mesmo tempo, instigante e inspirador.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
A literatura tem o mérito de nos fazer pensar o nosso tempo; também nos leva a refletir os nossos dias a partir das experiências e do modo de pensar de outra época. Ela registra o momento cultural de uma geração que servirá para a posteridade, com seus pensamentos, seus ensinamentos, sua forma de ver e resolver os conflitos e tabus de uma era. Além de tudo isto, a literatura nos conduz pelas histórias, com as quais choramos, nos emocionamos, damos asas às nossas fantasias e nos reconhecemos. Muitas vezes, através da literatura, somos confrontados com a nossa própria história.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Estou trabalhando numa coletânea com as colegas escritoras do blog Bendita Existência, do qual faço parte. A coletânea tem como eixo temático textos reflexivos, existenciais e motivacionais, que refletem, em estilos diversos, o olhar de cada autor sobre a existência. Este projeto será lançado no primeiro trimestre do próximo ano.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Eu fui forjado na poesia de Henriqueta Lisboa (Tempestade), de Cecília Meireles (O Menino Azul) e Iêda Dias da Silva (O Barquinho Amarelo). Também me encantei ao ler O Mágico de Oz, de L. Frank Baum e, no final da adolescência, também pelos livros de Og Mandino, que, de certa forma, me despertaram para as questões práticas da vida adulta, enquanto Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa continuavam a me alimentar de poesia e Lembrança de Morrer, do Álvares de Azevedo, declamado pela professora Ione Paiva, no ensino médio, me fez descobrir que era possível chorar ouvindo um poema. Já dentre os escritores contemporâneos, a minha leitura vai desde os nomes mais conhecidos, como Carla Madeira e Itamar Vieira Júnior, mas também de amigos queridos, como Cecília Rogers, Flávia Côrtes, Beth Bretas, Izabel da Rosa, Suzana Jorge, Rogério Salgado, Adriano Borçari, Adalberto Betonicou, Mauro Maciel, Nirlei Oliveira, Rozana Gastaldi, Margarida Montejano, Almir Amarante, Mauro Brandão – que construiu pontes poéticas maravilhosas, antes de partir para outro plano –, Ilma Pereira e Joseani Vieira, com as quais tenho construído momentos inspiradores, tanto na escrita como em grupos de leitura.
Como é ser escritor hoje em dia?
Não apenas na escrita, como em qualquer segmento artístico, há que se ter um bom alinhamento de expectativas para exercer o talento. Mas falando especificamente da escrita, hoje existem muitas oportunidades de autopublicação, seja por editoras independentes, por financiamento coletivo ou pelas leis de incentivo à cultura, além, é claro, das coletâneas que funcionam como excelentes portas de entrada para quem deseja lançar os seus textos para o público. As redes sociais também propiciam o encontro entre escritores, editoras e leitores. Num país que pouco lê, talvez sirva de alento saber que tem muita coisa boa sendo escrita por gente que acredita no poder da leitura!
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Conheci recentemente a iniciativa, através da minha querida amiga Joseani Vieira, e as primeiras impressões são as melhores. Gostei da plataforma e desejo muito sucesso nesta nobre missão de dar voz aos autores independentes e fomentar a literatura neste país.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Como autor independente, gostaria de divulgar as minhas redes, onde meus rabiscos podem ser lidos e me é possível interagir com os leitores:
Instagram: @jeffersonlima7.6
Sites: www.rabiscoepoesia.com | www.benditaexistencia.com.br