Marcadas para começar no mesmo horário, às 15h, a cidade de São Paulo teve neste sábado (22) duas manifestações antagônicas: A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que pedia a volta dos militares ao poder, e a Marcha Antifascista, que reivindicava “ditadura nunca mais”.
Na Praça da República, no centro da capital, a Marcha da Família comemorava também os 50 anos da primeira edição da marcha, que ocorreu no dia 19 de março de 1964, quando organizações da classe média paulistana protestaram contra o comunismo e abriram caminho para o golpe militar e início da ditadura no país, que seria instalada dias depois.
“Eu sou federalista, sou a favor da democracia. Só que a gente não tem certeza se a nossa democracia está sendo exercida. Então, sou a favor de que os militares intervenham, não o regime, apenas para convocar novas eleições com voto impresso, para o povo ter garantia de que o voto que ele está dando está indo para quem ele colocou lá. Não é regime militar”, disse Walace Silvestre.
Os manifestantes, que tinham expectativa de refazer o percurso da primeira edição do evento – da Praça da República até a Praça da Sé – gritaram, por vezes, “fora, Dilma”, e entoaram melodias pedindo a prisão da presidenta e a volta dos militares: “Um, dois, três, quatro, 5 mil, queremos os militares protegendo o Brasil”, e “um, dois, três, Dilma no xadrez”.
“Quem é pessoa de bem, as pessoas que já estão cheias deste país estão reivindicando um pouco mais de honestidade. O que a gente está vendo hoje não dá mais para ficar: é roubo, é político que não trabalha, é pouco caso. Temos que parar definitivamente com isso. O que nós precisamos é mudar. Se for pela intervenção militar, muito bem; se for [por meio de] pessoas sérias, políticos sérios, que seja”, disse Marques Brasil, um dos organizadores da marcha.
Em meio à manifestação, alguns ativistas discutiram e foi necessária a ação da Polícia Militar, que retirou à força do local um dos manifestantes e o levou para dentro da Secretaria de Estado da Educação, na Praça da República.
A poucas quadras dali, na Praça da Sé, a Marcha Antifascista reuniu manifestantes que repudiavam a ditadura e lembravam dos crimes de tortura e morte cometidos durante o regime militar. “Nós entendemos que não há nada a comemorar hoje. A ditadura representou um profundo retrocesso, com tortura, mortes e a entrega do país para as grandes potências internacionais. É necessário sair às ruas contra essa política de destituir o governo, fechar o Congresso Nacional e os partidos, que está sendo pregada pela outra manifestação”, disse o coordenador do ato, Antonio Carlos Silva, ligado ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
A Marcha Antifascista previa deixar a Praça da Sé e se dirigir até o prédio onde funcionou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército (DOI-Codi), na Luz.
“Os partidos de direita no Brasil estão afastados do poder pelas eleições já há algum tempo. A falta de alternativas eleitorais legais os força a tentar outras vias. Um golpe não é uma possibilidade afastada, e a gente tem de prestar atenção no que está acontecendo”, ressaltou Rafael Dantas, militante do PCO, um dos partidos que participaram do ato.
Bruno Bocchini, ABr