Andressa Pimenta Lins, Edição
Em 1945, um grupo que escavava o deserto egípcio em busca de fertilizante fez uma descoberta que mudou completamente nosso entendimento sobre o início do cristianismo.
Tratava-se de vários textos primitivos cristãos, incluindo os evangelhos de Tomé, Filipe e Marcião, alguns dos muitos livros alternativos sobre Jesus que não foram incluídos na Bíblia Cristã.
Por retratarem um Jesus Cristo radicalmente diferente daquele presente nos evangelhos do Novo Testamento – Mateus, Marcos, Lucas e João -, estes relatos acabaram sendo excluídos pela Igreja de seu texto sagrado quando se chegou a uma versão oficial do cristianismo.
Saiba mais sobre o que dizem estes textos, lendo a seguir.
Maria Madalena – Escrito provavelmente no século 3, o evangelho de Filipe mostra, por exemplo, um estreito vínculo entre Jesus e Maria Madalena.
“O Salvador a queria mais que todos os discípulos. A beijou em sua…”, diz um trecho deste texto. O restante da frase está ausente, mas especula-se que dizia “boca”, sugerindo uma relação mais íntima.
Este evangelho ainda retrata Maria como a fonte do conhecimento secreto sobre Jesus que diziam ter aqueles que o escreveram.
Guru místico – O evangelho de Tomé é uma coleção de ensinamentos de Jesus escrita no início do século 2. Jesus é descrito como um ser místico que revela verdades escondidas em vez de um sábio que morreu em nome dos pecados do povo.
O nome em aramaico de Tomé significa “gêmeo”, e é possível interpretar que o texto o apresenta como um gêmeo espiritual de Jesus, o discípulo ideal que melhor compreendeu “as palavras secretas do Jesus vivo”.
Os seguidores do evangelho de Tomé acreditavam que só alguns poucos eleitos poderiam entender os ensinamentos de Jesus e dessa forma reconhecer sua divindade e imortalidade inatas.
Nascido da virgem? – Marcião era um importante teólogo cristão do século 2, mas seus escritos se perderam ao longo do tempo.
Os relatos que criticam seu trabalho dizem que ele acreditava que Jesus era um ser divino enviado do céu que assumiu uma forma terrena, e não um filho humano de Maria.
Marcião foi o primeiro que tentou formar um cânone sobre as escrituras cristãs aceitas, que chamou de Novo Testamento. Seu cânone consistiu de um evangelho único e dez epístolas do apóstolo Paulo.
No ano 144, ele foi expulso da Igreja de Roma por sua teologia.
Morte? – O evangelho de Pedro foi descoberto em 1887, antes que os outros. É possível que os autores do livro tenham pensado que Jesus tinha um poder divino que transcendia seu corpo humano.
Neste texto, quando Jesus estava na cruz, ele teria dito: “Meu poder me abandonou”. Isso poderia ser interpretado como se o espírito divino de Jesus estivesse sendo levado ao céu enquanto seu corpo ficava na cruz.
No entanto, mais adiante no texto, há um relato vívido de sua ressurreição, que descreve como Jesus deixa seu túmulo acompanhado de sua cruz, que tem o poder de falar.
Por que estes evangelhos foram excluídos? Nos séculos 2 e 3, houve tentativas de elucidar quais evangelhos deveriam ser lidos como escrituras. Os quatro do Novo Testamento já eram usados assim em serviços eclesiásticos em Roma e, possivelmente, em outros lugares.
Estes evangelhos foram escritos provavelmente do meio para o fim do século 1 e aceitos por discípulos apostólicos e seus seguidores como escritos sagrados.
Alguns dos evangelhos perdidos foram escritos bem depois, nos séculos 2 e 3, e isso pode ter sido inconveniente para eles.
Em comparação com o que se converteu no Cristianismo estabelecido, aberto a todos os crentes, estes evangelhos eram elitistas às vezes. Falavam de uma forma misteriosa de encontrar a iluminação, por meio do entendimento dos significados ocultos das palavras de Jesus.
Uma possível razão para não terem sido incluídos no Novo Testamento é que o objetivo não era que fizessem parte de um cânone mais amplo ou que fossem lidos como escrituras da Igreja, mas lidos só por alguns poucos eleitos.
Império romano – Quando o imperador romano Constantino se converteu ao Cristianismo no ano 312, ele quis usar este ato como uma forma de unificar seus fragmentados domínios territoriais.
Por isso, buscou-se padronizar as doutrinas cristãs e criar um cânone a partir das escrituras do Novo Testamento. Assim, as escrituras apócrifas foram separadas e até mesmo suprimidas. A grande maioria simplesmente deixou de ser reproduzida.
Ao fim do século 4, os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João foram aceitos amplamente como parte integral dos 27 textos que constituem o Novo Testamento, que, junto com o Velho Testamento, formam o cânone das escrituras cristãs sagradas.
O evangelho de Mateus enfatiza a descendência nobre de Jesus e a remonta até Abraão. Acredita-se que o primeiro evangelho tenha sido o de Marcos, escrito entre os anos 65 e 75 D.C..
Os evangelhos de Lucas e Mateus se basearam neste texto. O evangelho de Lucas foi escrito para convertidos não judeus e rastreia a genealogia de Jesus até Adão, fazendo dele uma figura universal.