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Xandão é show

Embargo auricular tira ministro da lista de amaldiçoados pelo mito

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo/Marcelo Camargo-ABr

Meio crença, meio verdade, o ditado quem faz a fama deita na cama tem dois lados. É venéreo no lado negativo e, às vezes, inverdade no lado positivo. O problema é que, se negativo, a reputação permanece. É o caso de um jogador estigmatizado por simular faltas, de outro que ganha dinheiro para fazer um pênalti, de um político belicoso que perde a eleição e não consegue explicar o pior de seus incidentes, de um ex-presidente fujão que falsifica um mero cartão de vacina, de um ajudante ordens que, caso apertado, entrega tudo, de um magistrado eleitoral que perde um julgamento depois de, em um colegiado de sete, estar ganhando por quatro a zero, de dois outros ministros superiores que, apesar da desnecessidade, insistem em fazer tudo que seu mestre determina e de um ex-ministro da Justiça metido a justiceiro, mas que acabará justiçado.

É aquela velha história de que a fama dura 15 minutos, contra a eternidade de uma infâmia ou do ostracismo. Por isso, a sábia dica dos sábios é que a fama sem inteligência desfaz-se com facilidade. Quanto à positividade do conceito de celebridade, a recomendação é que não vale parar no tempo, se acomodar e viver do passado. O show tem de continuar. A notoriedade é efêmera se não há continuidade. É como pensa e age o ministro Alexandre de Moraes, o Xandão queridão de dez entre 11 brasileiros. Nos bastidores do STF e do TSE, dizem que é ele coçar a cabeça e a turma da República do Bozo começar a se desesperar.

E, asseguram, normalmente o desespero chega às vias de fato, ou seja, o que entra sai desesperadamente, sem chance de uma evacuação asseada. Não privo da intimidade de Xandão. Nem preciso para quase afirmar que o homem dorme com um olho aberto e atento a tudo que diga respeito ao Jair terrivelmente honesto. Preocupado com o futuro do país, consequentemente com a democracia, negociou, articulou, convenceu e mudará a composição da Justiça Eleitoral para os próximos julgamentos envolvendo o tal ex-presidente da República. São 16 processos, todos sob sua responsabilidade. Eita cagaço.

O principal deles trata da inelegibilidade mínima de oito anos do mandatário que não convenceu sequer a ele mesmo. Vamos aos fatos. Bolsominion de primeira hora, o jurista Carlos Horbach, até hoje (18) à noite ministro do TSE, foi “convidado” a se retirar da bancada, abrindo mão de um segundo biênio do mandato. Com isso, a OAB ganha uma segunda vaga. Horbach deixa o tribunal depois de alguns muitos percalços e corretivos por votos desconexos a favor do Jair. Bem menos verde e amarelo, o também advogado Sérgio Banhos deixou o TSE nessa terça-feira (16). Para garantir maioria para o julgamento, Xandão, atual presidente da Corte Eleitoral, vai elaborar (ou já elaborou) uma lista com quatro nomes (e não seis, como é a praxe) e a enviará ao STF.

Em votação secreta, o Supremo aprova ou não os nomes e os remete à Presidência da República. A palavra final é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer ver Jair Messias em outra dimensão. Obviamente que dos quatro aprovados pelo STF, Lula escolherá os dois juristas mais alinhados com Alexandre de Moraes e com as causas mais à esquerda. O resumo da ópera é que, com uma única tacada, Lula da Silva e Xandão emplacam mais dois simpatizantes e tiram dos patriotas a representatividade nas eleições presidenciais de 2026, quando o tribunal será comandado por Kássio Nunes Marques e André Mendonça, náufragos do bolsonarismo raiz. Portanto, seja lá quem for, o candidato do clã Bolsonaro não terá vida fácil no TSE.

Sobre Horbach, o que mais pesou contra ele foi um encontro secreto com Jair 12 dias antes do julgamento em que o TSE rejeitou a cassação de Jair e do vice Hamilton Mourão por disparos em massa de fake news nas eleições de 2018. Suposto ou não, a “reunião” no Palácio da Alvorada está registrada nas mensagens do celular do ajudante de ordens Mauro Cid. Na prática, a atitude incomum do ainda ministro Carlos Horbach evita um constrangimento ainda maior. É lógico que ele seria vetado por Luiz Inácio. O embargo auricular de Xandão acabou evitando que a rápida passagem do moço pela magistratura terminasse de modo fúnebre. Ou seja, talvez ela não seja incluído na extensa lista de simpatizantes amaldiçoados pelo mito de Curicica. Para os que estão lotando a rede do TSE em apoio à tese da inelegibilidade, Jair foi apenas exibição. Xandão é show.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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