Olhando o amanhã
Embrapa debate técnica de agricultura irrigada no Cerrado
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em“Não existe nenhuma tecnologia melhor do que a irrigação para que a produção agrícola seja intensificada e o Brasil consiga atender à crescente demanda mundial por produção de alimentos dos próximos anos”. É o que afirmou o pesquisador da Embrapa Cerrados, Lineu Rodrigues, durante palestra no III Encontro de Agricultura Irrigada do Brasil Central – evento realizado pelo Instituto de Pesquisa e Inovação na Agricultura Irrigada – Inovagri, no Centro Comunitário Athos Bulcão, da UnB.
O pesquisador participou de uma das mesas-redondas do evento e apresentou a palestra “Agricultura irrigada: desafios, estratégias de representação e defesa do desenvolvimento sustentável”. Segundo Rodrigues, produzir alimento será cada vez mais desafiador por conta do clima. “Temos muitas incertezas, mas algumas certezas. A chuva ficará cada vez mais concentrada e intensa. Isso não é bom para produzir alimentos e impacta diretamente na demanda de irrigação, que tem mais relação com a distribuição da chuva do que com a quantidade”, explicou.
De acordo com o pesquisador, o Brasil tem 12% das reservas de água doce do planeta. “Não dá para falar em falta de água para a agricultura em um país como o nosso”, ponderou. Segundo ele, o que há, de fato, é uma variabilidade temporal e espacial de água no país, o que pode ser resolvido com as barragens, que servem para transpor água no tempo, e com as transposições de água entre regiões. A área irrigada no Brasil é de cerca de 8,5 milhões de hectares, sendo a área potencial de 55 milhões de ha. “O Brasil irriga hoje 2% do que se irriga no mundo e utiliza menos de 1% da vazão disponível”.
Para o especialista, um dos grandes benefícios da irrigação é justamente proporcionar estabilidade de produção, uma vez que com ela se reduz o impacto do clima nas culturas. Ele elencou ainda outras razões para que a agricultura irrigada seja pensada de forma positiva, que vão desde o aumento de produtividade, uma vez que no irrigado ela (produtividade) é em média três vezes maior do que no sequeiro, viabilidade de produção durante o ano todo e garantia de qualidade ao produto final.
O pesquisador destacou, ainda, que com a irrigação é possível viabilizar a produção de certas culturas, como, por exemplo, hortaliças e frutas. “A irrigação permite melhorar a vida das pessoas e não tem nada mais importante do que isso. Ninguém pensa em mudanças climáticas passando fome”, enfatizou. Ele citou um exemplo de como a agricultura irrigada está sendo promotora do desenvolvimento regional: o projeto Fruticultura Irrigada do Vão do Paranã, desenvolvido no nordeste de Goiás e que conta com a Embrapa como parceira. “Trata-se de um projeto referência para o Brasil e que poderá ser replicado em outras partes do País”.
De acordo com o pesquisador Lineu Rodrigues, hoje o Brasil é referência em questão de tecnologia de irrigação, mas por outro lado precisa avançar quando o assunto é a legislação, para adequá-la às novas tecnologias. “Para isso, criamos em 2021 a Rede Nacional de Agricultura Irrigada (Renai) a fim de atuar junto ao parlamento e ao executivo em questões estratégicas para o desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada”. Segundo ele, o que se busca com a rede é apresentar a agricultura irrigada como um vetor para o desenvolvimento, com contribuições efetivas para segurança alimentar, econômica e ambiental do Brasil.
Capacitação e visita – na programação do Encontro também teve minicursos. Um deles foi sobre o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para cultivos irrigados, conduzido pela pesquisadora da Embrapa Cerrados, Maria Emília Borges. A capacitação contou com 30 participantes e abordou uma visão geral do zoneamento e a metodologia para a geração dele para os cultivos irrigados, o que o diferencia daquele para os cultivos de sequeiro. “E a fim de demonstrar a sua metodologia e aplicabilidade, foi apresentado o estudo de caso do ZARC para a cafeicultura irrigada”, explicou a pesquisadora.
A programação do evento contou ainda com visitas técnicas, uma delas foi realizada na Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), na quarta-feira (11). Participaram cerca de 60 alunos dos cursos de Agronomia e Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Alagoas, da Universidade Federal de Uberlândia (campus Monte Carmelo) e da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (campus Unaí).
Os estudantes foram recebidos pela pesquisadora Maria Emília Borges, que falou sobre a importância da Unidade para o desenvolvimento agropecuário do Cerrado e exibiu o vídeo institucional do centro de pesquisa. Nos campos experimentais, a pesquisadora apresentou a Unidade de Referência em Manejo de Água (URMA) II. Os visitantes também conheceram os experimentos com café irrigado, mostrados pelo pesquisador Adriano Veiga.