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Emendas PIX viram pajelança e acabam em pó com parlamentares

O Congresso Nacional retoma as atividades após o recesso. Presentes na solenidade: presidente Jair Bolsonaro, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, o presidente da Câmara, Arthur Lira e o presidente do STF, Luiz Fux

Pior do que o samba do crioulo doido, as chamadas emendas PIX são, na melhor das hipóteses, um carro alegórico criado e adornado por deputados e senadores para que eles se escondam dos órgãos fiscalizadores. Na pior, é uma fantasia de palhaço também confeccionada por suas excelências para ser usada pelos contribuintes que colaboram com boa parte de seus salários para sustentar a baderna financeira oficial dos integrantes das duas casas do Congresso. Os dados são alarmantes. Do total distribuído entre suas excelências, menos de 1% das emendas desse tipo malandreado tem destino identificado.

Ou seja, recebem a expressiva bufunfa, dividem e gastam ninguém sabe onde ou com quem. Conforme dados da Transparência Brasil, não há digital alguma nas emendas distribuídas este ano. Em números reais, 73% do orçamento de 8,2 bilhões (cerca de R$ 5,9 bilhões) não têm informação sobre destino e uso. No português escorreito da concentração de puxadores de samba, o dinheiro público virou pó e acabou no ralo da estrada lambuzada de óleo de peroba para desfile exclusivo dos congressistas empavonados e bem próximo da nota 10 no quesito ladroagem explícita.

O zero em desfaçatez é para toda a comissão de frente que trabalha na elaboração de uma resposta ao ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino que, como juiz da Constituição, exigiu dos passistas legisladores de causa própria apenas transparência na evolução e nas alegorias. Bem próximos da dispersão moral, os doutores em pilhagem de recursos da União obviamente que desfilarão argumentos para explicar o inexplicável. Nessa altura, qualquer resposta será desnecessária e incapaz de amenizar a imagem que se tem deles como protagonistas de uma farra irresponsável, inescrupulosa e criminosa com verbas do orçamento.

Ex-deputado federal e senador eleito em 2022, Flávio Dino virou persona non grata no Congresso. Seu suposto crime foi exigir que os recursos enviados pelos parlamentares aos governos estaduais e às prefeituras precisam atender aos requisitos constitucionais de transparência e rastreabilidade. O sinônimo disso é endereço especificado, isto é, transferência de recursos federais diretamente para os beneficiários (governadores e prefeitos), além de informações periódicas relativas à forma como o dinheiro foi gasto. Nada mais do que isso.

Os senhores feudais do Parlamento resolveram entender a decisão de Flávio Dino como interferência do STF sobre o Legislativo. Pensar assim é muito mais do que desafinar da sonoridade do samba da geral. É buscar apoio no pessoal do meu pirão primeiro para o chamado bundalelê, oficialmente denominado de liberou geral. As críticas nem de longe incomodam os congressistas que, na ausência do samba no pé, trabalham dois dias na semana com um único objetivo: rosetar. E pouco importa que o povo reclame ou que a mula manque, pois o que eles querem é rosetar, cujos principais sinônimos são anarquizar, furdunçar e fandanguear.

O fim da pajelança com o dinheiro público irritou bagrinhos e tubarões da Câmara e do Senado. Absurdos dos absurdos é a incoerência das excelências das casas de leis. As mesmas normas que apresentam e aprovam são esquecidas quando eles são os beneficiários. Resumindo o samba enredo composto pelos próprios, a política deveria ser o ato nobre de prezar pelos interesses da população. No entanto, é claramente a infame arte de enganar a população para atender a interesses pessoais. O dinheiro some no bolso dos homens públicos e ninguém tem nada com isso. Os palhaços continuam palhaços. A conclusão é simples para quem quer deixar de ser palhaço: político só serve para uma coisa: nada.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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