Eminência parda, Heitor queria puxar tapete e teve o dele puxado
Publicado
emJosé Escarlate
Secretário particular cuida dos assuntos pessoais e coordena o recebimento e as respostas das correspondências pessoais e sociais do presidente da República. Durante todo o governo Geisel, Heitor Aquino Ferreira mexeu por baixo dos panos com o objetivo de mandar e desmandar.
Heitor adulava jornalistas e favorecia uns em detrimento de outros. Mudando o governo, Figueiredo já presidente, colocou ainda mais as manguinhas de fora. Depois do caso do Riocentro, com a tremenda repercussão que teve e com a inesperada queda de Golbery, achou que poderia ser seu sucessor no Gabinete Civil . Afinal ambos adotavam o mesmo método. O mesmo modelo.
Figueiredo convidou o ministro João Leitão de Abreu, que estava no Supremo Tribunal Federal, para desespero de Heitor. Afinal, Leitão era velho amigo de Figueiredo desde o governo Médici. Inconformado, Heitor Aquino Ferreira ainda tentou jogar cascas de banana no caminho de Leitão de Abreu, que tinha um ar tranquilo, bondoso, mas que na verdade era uma águia.
Um dia, Heitor mandou preparar e plantou matéria contra Leitão, agilizando sua distribuição a diversos jornais. Foi justamente nessa ocasião que foi plantado, no gabinete do presidente um sofisticado equipamento de escuta, que Figueiredo mais tarde atribuiu ser Heitor o mandante. Traiu a confiança de Figueiredo fazendo campanha ostensiva, dentro do Palácio do Planalto, em favor de Paulo Maluf, levando consigo sua entourage. Na ação contra Leitão de Abreu, Heitor deixou o rabo de fora e não foi nada difícil para o ministro convencer o presidente Figueiredo a ficar livre dele, demitindo-o.
Em poucos dias, o processo de fritura do secretário particular do presidente estava em ebulição. Sentindo-se perdido, tentou agarrar-se a velhos aliados do Planalto, como os generais Octávio Aguiar de Medeiros e Rubem Ludwig. Foi aí que, através deles, soube que seu caso era assunto liquidado. Não havia retorno. Recebeu das mãos de Carlos Átila o decreto, assinado pelo presidente, de apenas sete linhas, exonerando-o do cargo que vinha mantendo desde os primeiros dias do governo do presidente Ernesto Geisel.