Longe da nação dos meus sonhos, o Brasil de hoje é apenas uma questão de ótica. Dependendo do ângulo e de quem o vê, ele é bom ou ruim. Acabou a euforia do país verde e gigante pela própria natureza, do amarelo por suas riquezas e branco por seu desejo pela paz. De mulher para mulher, além do progresso, nos falta ordem e, às vezes, até vontade de ser brasileira. No momento em que quase consolidamos a igualdade de gêneros, ainda enfrentamos situações que nos obriga a refletir sobre a necessidade de nos mostrarmos como seres humanos empoderados, fortes, destemidos e capazes de qualquer coisa.
Sem entrar no mérito político, econômico ou conjugal, tampouco da capacidade administrativa, não podemos olvidar que, apesar da assinatura máscula nos decretos, medidas provisórias e na liberação de emendas parlamentares, a palavra definitiva no Brasil de 2025 vem de uma de nós. Interesses presentes e futuros à parte, a eloquência da primeira-dama lembra a do folclórico técnico Joel Santana. E daí? Em português, inglês ou janjês, ela não diz o que todos queremos ouvir, mas, indiscutivelmente, sua voz grossa e nada melodiosa incomoda desde esquerdopatas espaçosos aos “patriotas” esquizofrênicos e incapacitados politicamente.
Como sua antecessora, a moça certamente não nos representa. No entanto, partiu dela a excitante frase dirigida àquele homem bronco que se acha o enteado do suposto dono do mundo. Desafio qualquer uma de nós a afirmar, sob juramento, que nunca teve vontade de dizer ao Senhor X o que ela disse publicamente: “Fuck you, Elon Musk”. Como aproveitadoras do que é bom, devemos estender o fuk you a todos os homens que insistem em nos tratar com seres de segunda e terceira categorias. Chega de sermos vistas somente como objetos do desejo masculino. Reprodutoras são as porcas, as vacas e as galinhas.
Nós somos mulheres, essência, pura beleza interior, mistério de vida. Intrigantes, intensas, entendidas, marrentas, orgulhosas, resolvidas, inexplicáveis e independentes, também podemos ser malévolas e apaixonadamente cruéis. Temos consciência de que os conservadores e os hipócritas torcem as ventas, mas somos donas dos nossos narizes, de nossos corpos e, principalmente, de nossas vulvas. Sem nuances de vulgaridade, seremos Genis de quem quisermos, quando quisermos e se quisermos. Por definição, mulheres com voz são mulheres fortes. Nós somos fortes e soberanas.
Dependendo da contrapartida, fechamos parcerias indevassáveis e indestrutíveis. Desde que haja reciprocidade, amamos monogamicamente aos senhores A, B e C. Os do tipo X, Y e Z melhor que fiquem ou que voltem para o armário. Embora permaneçamos vulneráveis, a maioria de nossos antagônicos já descobriu que dormimos sem medo com os lobos porque aprendemos a nos defender como leoas. Em uma sociedade que teima em nos vender padrões inatingíveis, se amar incondicionalmente é um ato revolucionário. Se acham mesmo isso, então somos revolucionárias. Nada é mais poderoso do que uma mulher que vive livremente, sem amarras ou limitações. Nossos valores devem ser determinados por nós. Ou seja, nada entra ou sai sem nosso consentimento.
De mulher para mulher, manipulação nunca mais. Que a liberdade seja nossa substância. Tenhamos coragem para sempre reagir ao bullying machista que nos rotula de sexo frágil. É verdade que viramos vítimas de homens que nunca souberam o que é amar. São os feminicidas, aqueles cuja manifestação de ódio contra as fêmeas denota sua condição de macho fracassado e covarde. É o nosso empoderamento o que mais incomoda os pulhas da sociedade. Eles não entendem que deixamos de ser acessórios descartáveis. Queriam ou não alguns homens, as mulheres de hoje são diariamente diagnosticadas com TPM: Terrivelmente Poderosas por serem Mulheres. Quanto ao Dia da Mulher, trocamos as flores, os bombons e os parabéns por respeito, consideração, igualdade e voz em todos os demais dias do ano.
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*Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras