No dia 12 de janeiro deste 2024 que se inicia, lá estava eu de passagem por São Carlos, quando me dei conta que ali mora um dos grandes contistas/cronistas contemporâneos. Seu nome? Ah, isso sei de cor e salteado, pois ele é meu colega no Notibras: Guilherme Martins.
Como não sabia se meu amigo estava na cidade, mandei-lhe uma mensagem enquanto abastecia o carro. E, antes que eu pagasse pelo combustível, eis que recebo a resposta: “Que maravilha, Edu! Então, vamos tomar um café!”
Pronto! O danado havia me fisgado por duas razões óbvias, que acompanham qualquer escritor. A primeira, obviamente, era o café, que já previa ser gourmet, tamanho o apreço que há tempos sei que o Guilherme possui pela bebida mais brasileira de todas. O outro motivo é que o meu amigo é um ótimo contador de causos, o que me faria dar boas risadas, além de ser o mote para várias histórias.
Como não conhecia São Carlos, parei numa esquina e aguardei pela chegada do Guilherme, que, em menos de 10 minutos, surgiu em um belo automóvel branco e impecavelmente limpo, como se tivesse saído de uma concessionária. Era nítido o contraste com o meu, que, na verdade, pertence à minha amada esposa, a Dona Irene: vermelho e todo sujo, muito por conta das fortes chuvas da viagem.
O Guilherme desceu e veio me cumprimentar. Logo depois, ele me disse para segui-lo, pois conhecia uma excelente padaria ali perto, que servia o melhor café da cidade. Sem tempo nem ânimo para contestar meu colega, obedeci, já prevendo o agradável momento.
Mal chegamos, escolhemos uma aconchegante mesa ao fundo. Fizemos os pedidos e, por quase duas horas, falamos sobre diversos assuntos, mas um, em especial, tomou boa parte: a literatura.
– Edu, quais são as suas inspirações?
– Várias coisas. Pode ser uma frase que ouço, uma foto que acho legal ou uma situação engraçada. E as suas?
– Olha, vou te dar um exemplo. Um dia, ao sair de um restaurante, acabei dando um chute em uma pedra. Por esses acasos da vida, ela bateu no tronco de uma árvore. Isso foi uma baita sorte!
– Por quê?
– É que atrás dessa árvore estava uma Ferrari. Imagina se a pedra atinge a lataria? Eu estaria lascado!
Enquanto meus olhos se arregalavam, vislumbrei a encrenca que o Guilherme poderia ter se metido. Ele, então, me disse que riu de nervoso naquele momento, mas que a trajetória de algo tão simples e comum, no caso, uma pedra, poderia dar uma ótima história. Foi daí que surgiu o conto “A pedra”, que já estampou as páginas de Notibras.
O papo estava excelente, mas a estrada me esperava. O Guilherme me deu um abraço bem apertado, depois entrou no seu automóvel, que, de tão branco, poderia fazer propaganda para aquele famoso sabão em pó. Virei a chave e ouvi o ronco do motor do veículo vermelho, que, certamente, chegaria ainda mais sujo na Cidade Maravilhosa.