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Enfarto de futuro sogro força gasto de energias da volúpia que não houve

Era uma vez um adolescente chamado João, que namorava Maria, uma colega de classe. Os dois tinham 18 anos recém-completados e se gostavam muito – o suficiente para superar, com um sorriso, as inevitáveis piadinhas com os seus nomes. Por um milagre dos deuses, ambos eram virgens. Claro que, com a ebulição dos hormônios, passaram a se desejar loucamente, a só pensar naquilo, e decidiram perder a virgindade juntos.

(Essa parte do relato está demasiado sucinta. Houve rompimentos e retomadas do namoro, acusações – mais que fundadas – de Maria de que João só queria transar, contra-argumentações – fundamentadas – de João de que Maria queria a mesma coisa. Não vou me estender, todos nós já passamos por isso, sabemos como a banda toca – e, na esmagadora maioria dos casos, morremos de saudade dessa fase atabalhoada.)

Afinal, com sorrisos entre envergonhados e desafiadores, ambos admitiram que era isso mesmo, que era perfeitamente normal, mais ainda, inevitável, que tinham mais é que transar e ponto final.

Transas adolescentes têm uma logística complicada. João descolou o apartamento de um amigo de seu irmão mais velho, jurando vassalagem e prometendo lavar os carros deles durante um mês; engoliu muitas vezes em seco mas conseguiu comprar camisinhas na farmácia, enfrentando o olhar malicioso da balconista (o coitado comprou dezenas de camisinhas, dos tamanhos médio e grande; as segundas, como uma espécie de oferenda aos deuses do sexo e as primeiras, para serem efetivamente usadas). Também fez a barba – ralíssima – e ficou horas no banho, lavando tudinho. Afinal, nunca se sabe o que pode rolar, né não?

Talvez lisonjeadas pela oferenda das camisinhas, as divindades do negocinho conduziram João até a mesa de cabeceira do quarto de seu irmão, onde ele encontrou, na gaveta, uma cartela novinha de Cialis. Ele já ouvira falar nesse produto, e uma rápida pesquisa na rede confirmou suas propriedades antibroxantes. Só não sabia a dose correta para uma noite de loucura.

“Matar não vai. Duvido que eu tenha um enfarte aos 18 anos”, pensou o adolescente. E tomou quatro bombas, uma hora antes do encontro com Maria.

Esta, como era previsível, preparara-se ainda mais cuidadosamente. Tomou um longo banho, lavou tudinho (afinal, nunca se sabe o que pode rolar, né não?), passou perfume nos seios, no umbiguinho e adjacências e aparou os pelos pubianos.

Moças são muito mais realistas do que rapazes. Enquanto João queria uma performance que o fizesse ingressar direto no Olimpo dos grandes amantes, Maria só queria que sua primeira vez fosse perfeita. Isso significa gozar muuuito, driblando a maldição dos carinhas dessa idade: a ejaculação precoce. Seguindo o conselho de amigas mais velhas e mais rodadas, ela conseguiu duas cápsulas de Cialis. Pretendia dissolver o conteúdo em uma bebida que ofereceria a João. Afinal, vale tudo no amor e na guerra, até dopar o pobre parceiro. “Ele pode terminar rapidinho, mas vai voltar ao combate”, pensou com um riso malicioso.

Quando Maria entrou no apartamento, João já estava em ponto de bala. Discretamente apalpou-se (de leve, para não ocorrer a tragédia de ejacular no ato) e pensou: “É, tá crescendo”. Lembrou-se de um verbo pouquíssimo usado com que se deparara certa vez no dicionário, intumescer, que significa “aumentar de volume, inchar(-se), dilatar(-se)”, e pensou com orgulho: “Tô bem intumescido”. Ele avisou que ia ao banheiro (para ver ao vivo e em cores o tamanho do bicho). Maria aproveitou a oportunidade para dissolver os dois comprimidos em um copo de refrigerante.

Quando o rapaz saiu do banheiro, Maria ofereceu-lhe o copo e sugeriu um brinde. – A uma noite inesquecível – falou com voz rouca. João tomou a bebida de um gole só e avançou para Maria, os olhos vidrados. Esta, porém, esquivou-se. Não era charminho, longe disso, queria apenas que a droga tivesse tempo de fazer efeito, sem saber que João já estava com seis bombas no organismo.

Minutos mais tarde, Maria concluiu que, pelo que sentira contra sua barriga ao beijar o namorado, ele já estava no ponto. Engano dela: João estava muito além do ponto, o intumescido ostentava uma ereção de matar um jegue de inveja. Ela mordeu-lhe a orelha de leve e sussurrou:

– Vamos começar?

João nem respondeu. Desabotoou a blusa da menina para iniciar as preliminares – que, pelo jeito, iam durar uns 2 minutos, se tanto – e tocou-lhe o seio.

Foi nesse momento que o celular de Maria tocou.

– Não atende! – ordenou/suplicou João.

Porém Maria atendeu, e o namorado viu seu rosto enrubescido pelo desejo empalidecer.

– Meu pai teve um derrame – explicou ao desconsolado rapaz. – Vou correndo para o hospital.

– Não me deixa assim, não faz isso comigo – suplicou o intumescido. Mas Maria saiu chorando do apartamento, só pensando no paizinho.

Sem alternativa, João tocou umazinha e terminou em segundos. Claro, a intumescência não diminuiu. Enquanto iniciava a segunda, lembrou-se de uma história em quadrinhos que lera em uma Playboy americana. Não recordava tudo, só o desfecho: um cara, abandonado pela parceira em circunstâncias semelhantes, desce do décimo andar de um edifício e invade os apartamentos passando na cara o que encontrasse pela frente: homem, mulher, papagaio, periquito, fechadura, o que desse. Enquanto terminava a segunda, João sorriu com tristeza e pensou: “Sorte daquele cara, 10 andares para tentar domesticar a fera. Eu tô no térreo”. E iniciou a terceira das muitas masturbações daquela noite.

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