Duramente afetados pela rotina da pandemia, profissionais de enfermagem têm relatado diversas dificuldades a voluntários de projeto focado em saúde mental
Logo no início da pandemia de covid-19, a enfermeira Dorisdaia Humerez, de 62 anos, decidiu criar uma iniciativa para cuidar da saúde mental dos profissionais de enfermagem que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus.
“Os enfermeiros já enfrentavam, antes da pandemia, problemas de saúde mental relacionados a longas jornadas de trabalho, como estresse, esgotamento e havia até relatos de pensamentos suicidas. A gente sabia que a situação pioraria com a pandemia, mas não pensávamos que pioraria tanto”, diz Dóris, como a enfermeira é conhecida, à BBC News Brasil.
Coordenadora da Comissão Nacional de Saúde Mental do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), ela criou o projeto “Enfermagem Solidária”. De forma gratuita, 24 horas por dia, a iniciativa fez cerca de 8 mil atendimentos virtuais de trabalhadores de todo o país no ano passado, segundo Dóris.
Depressão, ansiedade e pensamentos suicidas foram alguns dos temas que os cerca de 150 voluntários leram em relatos dos profissionais de saúde.
Entre os casos que acompanhou, Dóris destaca um que a deixou muito comovida: uma enfermeira que se sentia culpada após a mãe morrer em decorrência do novo coronavírus. “Ela acreditava que tinha sido a responsável por infectar a mãe. Foi uma das situações mais difíceis”, relata.
O “Enfermagem Solidária” ajudou até mesmo a idealizadora do projeto. Em novembro passado, o marido de Dóris morreu em decorrência da covid-19.
“Percebo que o “Enfermagem Solidária” até me ajuda a compreender melhor a perda que eu tive”, diz.
Desde o começo da pandemia, os profissionais de saúde que estão na linha de frente contra a covid-19 enfrentam situações extremas de esgotamento físico e mental, que se tornaram mais agudas nos picos da pandemia, como hospitais sobrecarregados, falta de equipamentos de segurança e ausência de medicamentos para intubar pacientes.
Esses trabalhadores também vivem com o medo de serem vítimas do novo coronavírus e lidam com a saudade de colegas que morreram em decorrência da covid-19.