Notibras

Enganaram Agnelo. Parque Digital ficará para futuro distante

Uma reportagem do G1, postada na página virtual do DFTV na madrugada desta segunda-feira 29, provocou calafrios em quem já passou pela equipe do governador Agnelo Queiroz. Coube a José Humberto de Matos, diretor da Terracap, dizer uma verdade que muita gente tentou esconder. Agnelo foi enganado. E o Parque da Cidade Digital, que já consumiu 60 milhões de reais, vai continuar no papel por longos anos.

Veja a reportagem:

Prometido há mais de 15 anos e anunciado pelo governador Agnelo Queiroz para o atual mandato, o Parque Digital do Distrito Federal segue em “fase de estudos” e não vai sair do papel tão cedo. A Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap) afirma que está “reavaliando a estratégia de implantação” e vai estabelecer um novo cronograma para o projeto.

Além do descumprimento de uma promessa de governo, o parque desabitado representa prejuízo econômico. A Terracap não informa os valores investidos na área próxima à Granja do Torto, mas um material apresentado a empresários do setor de tecnologia em 2012 cita investimentos de “mais de R$ 60 milhões” para obras de pavimentação, iluminação, água e esgoto.

A subestação de energia elétrica foi inaugurada em outubro e custou outros R$ 12 milhões, segundo dados da Companhia Energética de Brasília (CEB). A infraestrutura básica também já foi concluída, mas pode ser alterada pelo novo estudo.

Faltando dois dias para o término do mandato de Agnelo, o parque deve fechar o ano como está atualmente, com um único prédio funcional: o datacenter do Banco do Brasil e da Caixa Econômica.

Mesmo que os estudos técnicos atuais fossem seguidos à risca, o parque não teria condições de sair do papel antes de 2018. A afirmação é do diretor de novos empreendimentos da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap), José Humberto de Matos.

Responsável por tocar o projeto, o engenheiro diz que precisou começar do zero há três anos e que o parque precisa de mais quatro anos para ser competitivo, pelo menos, em nível local. A competitividade internacional só virá, segundo ele, em 2029.

“Nós vamos precisar de quatro, cinco governos para concluir o projeto, não é coisa de um governo. Quem fala que vai entregar rápido sabe que não é possível fazer”, afirma. Matos diz acreditar que o governador foi enganado pela própria equipe no início da gestão, em janeiro de 2011, quando assinou decreto relativo ao parque e prometeu que a área estaria em “pleno funcionamento” até o fim do mandato.

“Por que eu te falo que enganavam o governador? O assessor diz a ele no primeiro mês: ‘governador, lá vai ter sala de videoconferência’. Mas não diz cadê o projeto, o que prevê a sala, que tipo de isolamento acústico, que tipo de cabeamento ótico.”

Já no primeiro mês de governo, Agnelo assinou decreto que previa a criação de uma governança para administrar o Parque Tecnológico Cidade Digital. Quase 48 meses depois, a licitação para escolher o parceiro privado ainda está congelada na Terracap. Se houver interesse do novo governo, a concorrência pode ser lançada em 2015.

Na parceria, o Distrito Federal cede a terra, uma área de 123 hectares avaliada em R$ 1,5 bilhão (US$ 580 milhões), e o parceiro privado investe um valor superior em quatro anos para construir a infraestrutura de engenharia e tecnologia. Com a atualização monetária, a participação de 52,9% do consórcio privado representaria investimentos de R$ 1,67 bilhão.

Toda a estrutura inicial é concentrada em uma área de 26 hectares (260 mil metros quadrados), a “fase um” do projeto na região mais próxima da Granja do Torto.

O datacenter dos bancos públicos e a subestação da CEB ficam em outro espaço, onde também deveriam ter sido construídas sedes para a governança do parque, a Secretaria de Ciência e Tecnologia e a Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP-DF). Os prédios de governo já têm verba alocada, mas não saíram do papel.

José Humberto de Matos diz que começou o projeto “do zero” quando assumiu uma diretoria da Terracap, em 2011. Os estudos foram feitos em parceria com o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UnB. Segundo os cálculos, o Parque Digital pode receber até 1,2 mil empresas e gerar 25 mil empregos diretos. Para atrair as grandes multinacionais, o governo estudava oferecer isenção tributária e condições facilitadas de financiamento.

“A gente pode isentar o IPTU, o IPVA, reduzir o IPI ao mínimo constitucional. As empresas não vêm ao Brasil oferecendo, mas pedindo benefícios”, diz Matos.

Para as micro e pequenas empresas, uma carteira de crédito pode ser oferecida pelo Banco de Brasília (BRB). Para as médias e grandes, a vantagem seria pagar apenas o aluguel das estruturas pré-construídas, em vez de arcar com a construção dos prédios corporativos.

Os estudos apontam que o Parque Digital do DF tem vocação para o desenvolvimento de softwares, mercado ligado à tecnologia da informação.

Segundo o material apresentado pelo GDF a empresários há dois anos, o DF tem o terceiro maior mercado de TI do país, e o Brasil, o sexto maior mercado do mundo. “Não vamos ter uma indústria de chips, uma área para montar computador”, afirma Matos.

Para cumprir essa vocação, não basta um decreto ou uma intenção de governo. Entre as 25 mil possíveis vagas de emprego, estão oportunidades para profissionais altamente especializados, e a necessidade de mão de obra pode ser maior que a capacidade de formação das faculdades e universidades do DF.

A demanda é estimada em 700 a 800 doutores e cerca de 1,5 mil mestres em áreas de tecnologia. O projeto prevê a criação de uma Escola Superior de Software na área do parque, em parceria com o Instituto Federal de Brasília, além de iniciativas com a UnB, a Universidade Católica e outras instituições de ensino. As negociações também não avançaram na área, até o momento.

Sair da versão mobile