Fechem a porteira do abate
Enquanto ele nega, jornalista trabalha e morre de Covid
Publicado
emNos primeiros três meses de 2021, a Covid-19 matou mais jornalista que a soma de todos os repórteres mortos por essa doença no ano passado. A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) traz esses dados alarmantes no dossiê Jornalistas Vitimados por Covid-19. Segundo esse levantamento, o Brasil é o país com o maior número de mortes de jornalistas pelo novo coronavírus no mundo.
De acordo com a FENAJ, a covid-19 matou 169 jornalistas entre abril de 2020 e março de 2021. Só neste ano, o país perdeu 86 repórteres, um aumento percentual 50% superior em relação a 2020. E pouco, quase nada, se falou sobre isso. Mais grave ainda, a própria federação admite que os dados podem estar subnotificados.
No dossiê, a faixa etária de mortes nessa categoria profissional está entre 51 e 70 anos (54,9%) e o número maior de perda de vidas está entre os homens. Amazonas, Pará e São Paulo, com 19 vítimas cada um, seguido do Rio de Janeiro (15) e Paraná (13) apresentam a maior concentração de mortes de jornalistas vitimados pelo novo coronavírus.
É importante apontar ainda que, como o número de mortes e infectados aumenta dramaticamente, cresce a necessidade da atuação do jornalista presencialmente na cobertura da pandemia .
À porta de palácios governamentais, de frente aos hospitais, em cemitérios ou diante da tristeza de familiares que perderam alguém, está o jornalista de texto e de imagem à procura da informação. Porque não há como o repórter coletar a real situação dessa pandemia sentado em um escritório.
De fato, a rotina de trabalho do repórter brasileiro é de exposição, porque a notícia está na rua, na voz e na história do povo. Soma-se a isso, que o jornalista é essencial para a democracia e para a pluralidade da informação.
Por fim, sem o jornalista, a liberdade de expressão fica fragilizada e, se ela deixar de existir, logo o brasileiro poderá ser levado como uma ovelha, mudo e silenciosa, para o abate. Alguém precisa aprender, de vez, que a Terra não é plana; e que negacionismo não faz parte do vocabulário praticado nas redações.