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Exorcismo

Entre lendas e obsessões há algum fascínio, mas será mesmo coisa do Demônio?

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Paulus Bakokebas - Foto Paulo Pinto/ABr

Há algo de fascinante em histórias de exorcismo. Talvez seja a ideia de um embate invisível entre o bem e o mal, uma luta que transcende o físico e espreita o metafísico. Desde os primórdios da humanidade, o sobrenatural nos serve como explicação para o que não compreendemos. Quando uma pessoa age fora do “normal”, quando desafios psicológicos ou comportamentais fogem à nossa compreensão, a palavra “possessão” surge com a força de um dogma inquestionável.

Mas será mesmo o Demônio?

A noção de possessão demoníaca permeia culturas e religiões, cada qual com seu arsenal de rituais, cânticos e símbolos sagrados para lidar com o “mal encarnado”. Padres, pastores, xamãs e curandeiros se colocam como intermediários entre o ser humano e o divino, prontos para expulsar o intruso invisível. É um teatro carregado de dramaticidade, onde a lógica muitas vezes cede lugar ao medo e à fé.

Por outro lado, a ciência insiste em desmistificar aquilo que chamamos de sobrenatural. O que antes era possessão, hoje pode ser esquizofrenia, transtorno dissociativo de identidade ou até mesmo um surto psicótico. Mas será que a explicação racional é suficiente para apagar o fascínio?

Talvez não seja tanto sobre o que é real, mas sobre o que escolhemos acreditar. A ideia de que o mal pode tomar forma, se infiltrar em corpos e causar o caos tem um apelo irresistível. Serve como um lembrete de que o mundo é perigoso e misterioso, mas também reafirma a crença de que o bem, representado por aqueles que combatem o demônio, sempre triunfa.

E há ainda a obsessão em apontar o dedo. A personificação do mal em um indivíduo pode ser uma forma de desviar a atenção de problemas mais profundos, de traumas não resolvidos, de sistemas que falham em acolher o outro. O exorcismo, então, pode ser menos sobre o Diabo e mais sobre nós mesmos – nossos medos, preconceitos e necessidade de controle.

No fim, a pergunta que fica é: quem realmente precisa ser exorcizado? O indivíduo, a sociedade ou as ideias que insistem em nos assombrar?

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