Betina, apesar do nome pouco comum, não parecia se diferenciar de outras crianças da rua, fossem irmãos, primos, parentes de consideração, amiguinhos ou até completos desconhecidos. Nas brincadeiras, se divertia como todos. Na escola, apesar da paixão por história e biologia, não se destacou entre tantos outros alunos. Aliás, quem sempre tirou as maiores notas, especialmente em matemática, foi a Taís, sua vizinha de carteira.
Veio a adolescência, seguida de transformações, que, de certa forma, a envergonharam. Todavia, depois de alguns anos, ela se apaixonou por si própria. Totalmente despida, olhava-se diante do espelho. Linda! Maravilhosa!
Não demorou muito, os amigos de infância todos foram se aprumando com alguém. Casamentos cheios de amor e promessas, outros nem tanto, alguns até por conveniência ou, então, simples arranjos entre famílias. E foi justamente na festança do casório da Taís, aquela que fizera companhia para Betina na escola, que o fato se deu.
Pois é, parece que Taís errou os cálculos na hora da famigerada tabelinha, embuchou e, antes que alguém percebesse, sua mãe a obrigou a se casar com o Albertinho, filho do seu Alberto, neto do seu Albertão, que também herdou o nome de algum ancestral. Gente sempre daquele lugar.
Aquele mundaréu de conhecidos, aquela quantidade de comida capaz de saciar a fome de um pequeno povoado. E lá estava a Betina, com um copo de licor entre os dedos, quando o Olavo, irmão do noivo, se aproximou. Ele já estava de olho naquelas carnes há tempos, mas Betina nunca lhe deu trela. Seja como for, o rapazola tentou mais uma investida, agora apelando para os brios da jovem mulher, no auge dos seus 29 anos.
– Já está indo pro caritó, hein, Betina!
– Tô indo tomar conta da minha vida!
E foi justamente o que ela fez. Mudou-se da cidade e, até onde se sabe, nunca mais voltou.