Sinônimos e seus significados
Entre uma pescaria e outra, tem gente no grupo que prefere fazer algo diferente
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Não sei como você costuma usar as palavras. Eu, talvez por ser apaixonada por nossa linda língua portuguesa, sou bem específica, não gostando de sinônimos, que nunca possuem exatamente o mesmo sentido. Então, cá tenho minhas manias e preferências por determinado termo, isto é, dependendo da ocasião. Se confundi sua cabeça, por favor, não se aperreie, que explico.
Pois bem, lá estava eu tendo que fazer minha prova de vida no INSS. É algo estranho para mim, já que o atendente exigiu meu comprovante de residência. Fiquei imaginando pessoas em situação de rua. Mas tudo bem, como sou precavida, sempre ando com uma conta de luz na bolsa.
Enquanto aguardava, uma mulher, regulada com a minha idade, puxou conversa. Como sou afeita a bate-papo, ainda mais quando preciso esperar por algo que parece nunca chegar, logo nos tornamos quase amigas de longa data. Seu nome? Meire. Ah, Meire mesmo, e não Rosemeire, como é mais comum.
— E o seu?
— Célia.
— Que coincidência!
— Como assim?
— Minha mãe também era Célia.
— Célia pura ou acompanhada?
— Célia Regina.
— O meu é puro.
— Geralmente vem acompanhado, né?
— É verdade. Tive duas colegas de trabalho que se chamavam Célia Maria e Maria Célia. Nós éramos conhecidas como as Célias do almoxarifado.
— Nossa!
De tão íntimas que ficamos, Meire me disse que Sílvio, o esposo, era afeito a pescarias com os amigos. Isso, aliás, talvez fosse recebido até com mais regozijo por parte dela do que pelo homem.
— Mas, Meire, você não teme que o Sílvio esteja aprontando nessas pescarias? Talvez seja uma desculpa que ele esteja inventando. Você sabe, né, que não dá pra confiar em homem.
— Pois quero mais que ele demore mais tempo pescando.
— E não sente falta do seu marido?
— Do meu marido, sinto.
— Então?
— Então, o quê, Célia?
— Ué, com o seu marido indo pescar…
Meire, com um sorriso naqueles lábios carnudos, finalmente comprovou a minha tese de que sinônimos não possuem o mesmo significado.
— Ah, não, Célia! Quem gosta de pescaria é o Sílvio, o meu esposo. Já o Evandro, que é o meu marido, prefere outras coisas.
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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